quinta-feira, 19 de março de 2009

5

Cinco dedos da minha mão,
Juntos, segurando a sua
Com mais cinco mil desejos
De te amar até a lua.
Cinco dias de saudade
Antes da semana chegar ao fim
Cinco sentidos escapando
Para te ver na quinta às cinco
Em uma quinta avenida
Ou no quinto dos infernos
Jurando mais de cinco mil vezes
O meu amor eterno
E meus olhos, quando te encontram
São duas estrelas de cinco pontas
E de cinco em cinco minutos
Eu te amo cinco vezes mais
Do que te amava
Cinco minutos atrás.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Sob(r)e a crise

Já que é o assunto do momento... e se prestarmos muita atenção, de todos os momentos. Parece que não conseguimos mesmo escapar, nem do assunto, nem da crise. Então vamos à ela.
Crise lembra declínio mas não é certo que tudo o que sobe, em algum momento tende a descer?
Sendo assim, a chamada “crise” é uma variável do movimento econômico global e que é, digamos, “prevista” desde a bíblia com suas vacas gordas e magras. Ou seja, mesmo que a história se repita (e ela se repete), já existia crise no feudalismo. Então, o escambo não seria uma boa solução para a crise, ainda que falássemos em troca de favores como prestação de serviços, posto que a “boa vontade” está em falta e é mais difícil de conseguir do que dinheiro e ainda não há dinheiro que pague.
Outro dia perguntei ao médico que fez meu exame demissional se ele achava que eu era doida em pedir demissão no meio da “crise”. Ele simplesmente respondeu que não, argumentando que a situação é sempre a mesma e que, só agora resolvemos lhe dar um nome.
Algumas pessoas estão atentas à essa variável e não se mostram desesperadas ou surpresas porque como o próprio nome diz, ela varia.
E se a crise financeira estivesse realmente forte, ela passaria por cima das crises de insônia, crises de tosse, crises conjugais, crises de pânico, crises de meiaidade, crises de identidade e crises existenciais.
Isso para mim é egoísmo, ou crise de burrice.
Dizem por aí que egoísta é quem só olha para o próprio umbigo. Então penso que os egoístas não são muito ambiciosos, já que os umbigos ficam bem abaixo dos olhos. E quem só olha para baixo perde as grandes oportunidades. E quem olha para baixo, olha para a crise.
E talvez, só talvez nem seja crise, mas um ato gravitacional para que possamos dar a devida importância às coisas mais substânciais.
Pode ser que fosse uma “crisezinha” que, de tanto que falamvam dela, ficou se achando, inchou e estourou.
Às vezes, ela até já passou. Não aguentou a fama.
Mas como o ser humano adora reclamar de barriga cheia...

Calma, sem crise.

O ECOísta

Juntou todas as embalagens tetrapak da prateleira, como se fosse derrubá-las num só golpe, e colocou no carrinho. Seus braços nus, com a manga da camiseta dobrada e recolhida, exibiam seu porte atlético enquanto alcançava a última dúzia de barras de cereais sabor castanha no corredor seguinte. Chegou ao caixa, jogou tudo na esteira e passou no cartão. Atirou as sacolas no banco de trás do carro e saiu cantando pneu. Entrou na academia, fez uma hora de exercício, usou os vinte e dois guardanapos do dispenser para comer um lanche natural e deixou tudo em cima da bancada da lanchonete. Piscou para meia dúzia de garotas que entravam enquanto ele saía. Convidou duas para um fim de semana na cachoeira. Levou dois tapas na cara e saiu. Passou pelo estacionamento, lotado, até chegar à área verde atrás da academia, onde havia estacionado. Recolheu as multas por estacionar em local proibido, amassou e jogou no chão. Entrou no carro, girou a chave no contato, deu uma grande volta e saiu do gramado. No engarrafamento, tentando sair da cidade, tomou três caixas do seu suco. Uma acertou no catador de papelão, a segunda caiu no bueiro e a terceira provocou o acidente que parou o trânsito por mais uma hora e meia atrás dele. Já na rodovia, comeu todas as barras de cereais, deixando uma nuvem de embalagens coloridas para trás. Finalmente, o contato com a natureza. Saiu do carro com as sacolas na mão, uma toalha e seu ipod. Sentou debaixo de uma árvore, tirou mais uma caixa de suco de dentro da sacola e abriu. Quando pegou a caixa, a abelha que estava rodeando a caixa há um tempão, entrou pelo seu nariz. Ele não percebeu, concentrado na trilha sonora do seu fim de semana, puxou o ar com tudo até que perdeu a força. Tentou tomar um pouco do suco mas o líquido desceu quente e cheio de formigas. Desesperou-se e acabou enrolado no fio do fone de ouvido. A sacola do supermercado vazia veio com o vento e grudou o seu rosto. Engasgado e sem ar, caiu sobre a grama. Dois dias depois não apareceu para trabalhar e começaram a procurá-lo. Uma das garotas da academia comentou sobre a cachoeira. Os bombeiros encontraram seu carro aberto, forrado de panfletos e, mais adiante o seu corpo, sufocado, com a sacola no rosto e vestindo uma regata velha com a mensagem em serigrafia, quase apagada: “Recicle-se”.

O dono da obra prima

E, voilá.
Impaciente. Aguardava os comentários, ansioso.
Bravo!
Não, bravo, não. Talvez um pouco nervoso.
Excelentíssimo!
Meritíssimo, ilustríssimo... oras, eu não me formei em Direito.
Fantástico!
Pelo que me consta, só aos domingos. E hoje é sexta-feira.
Incrível!
Isso não é desenho animado?
Perfeito!
Bom, ninguém é perfeito.
Uma obra prima! Quem é o dono dessa obra prima?
Eu, mas na verdade, foi ideia da minha mulher e não sou exatamente dono, o termo correto é responsável.
Certo, sr. Responsável, então o senhor é o tio?
Como assim?
Na ausência do dono, o senhor é o responsável.
Correto.
Então isso o torna, digamos, o tio. Responsável pela obra prima.
Não, o senhor não está entendendo.
Não, o senhor é quem não está entendendo.
Prima de quem?
Imagino que da filha da tia dela.
Impaciente. Ainda aguardando comentários, confuso. Calou-se. O diálogo continuou entre os presentes (sim, alguns ainda estavam embrulhados).
Ah, certo. Obra prima!
Eu já havia dito isso. Seja original.
Impaciente. Aguardando o último comentário, entediado. Não podia simplesmente deixar o recinto. Era o centro das atenções, de certa forma. Ele e sua obra prima. Agora, ela mais que ele.
O último crítico coçou a cabeça, levantou-se, abriu os braços, sorrindo.
Obra tia!
Frustrado. Não fez objeções e nem questão de agradecer os comentários.
Virou-se e saiu, calado.
Ao longe, ouvia-se os aplausos dos críticos... para sua obra prima.

Desemprego

Meu nome talvez não te interesse e minha idade, é provável que seja menos do que aparento mas não se assuste, não sou portador (a) de nenhuma doença grave, apenas a usual enfermidade do brasileiro: o desemprego.
Eu poderia estar matando, roubando, pedindo esmola ou vendendo meu corpo. Poderia estar pedindo dinheiro para sustentar filhos que não tenho ou despertar a incrível generosidade de vocês alegando morar e cuidar de uma avozinha muito doente, à beira da morte.
NÃO, não pertenço a nenhuma igreja, seita ou grupo e não quero doações de nenhuma espécie. Doações com valor monetário não enriquecem o ser humano.
Assim, aproveito a curiosidade de quem leu até aqui para falar um pouco sobre capacitação profissional e experiência. O mercado pede isso, não é?! Por que então cada vez mais a aumenta o número de cursos profissionalizantes e acontece o oposto com as oportunidades de emprego? Por que também as pessoas nunca estão satisfeitas com seus empregos?
Apenas 3% da população chega ao ensino superior e essa porcentagem afunila quando falamos em mestrado, doutorado e especialização. Além disso, é um absurdo que os profissionais formados em cursos técnicos ou seqüenciais sejam iguais aproveitados aos que concluíram uma graduação de 4, 5 ou 6 anos. Talvez sim pela vivência, interesse ou esforço mas não por sua formação acadêmica, já que um graduado passou o dobro do tempo se dedicando e investindo em seu futuro.
Além disso, quantos programas já tentaram implantar para acabar com essa e outras situações? É investido mais capital nos projetos do que nas pessoas que deveriam ser beneficiadas.
Ah, ninguém teria uma moedinha para contribuir com a educação profissionalizante e o desemprego do país...?