sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Por dentro



Arranca-me da garganta. Mas por que só da garganta? Arranca de mim toda. Para que nada mais fique entalado. Aproveita o momento em que vou me deitar. A fragilidade pós banho, a ansiedade pelos sonhos, a vulnerabilidade do meu corpo fresco. Não considere golpear  minha cabeça. Deixa-me assistir. Faça-me cortes superficiais. Quero ver o sangue escorrer. A dor é suportável... muito mais do que essa aqui dentro. Me arranque as entranhas e se delicie. Se lambuze com o meu ser. Epiderme, hipoderme. Morda minha carne e mastigue os orgãos crus, um a um. Enquanto você me saboreia, eu viajo dentro de você. Deslizo, derreto, deixo um sabor marcante. Aproveite. E antes de pensar em me degustar como uma iguaria qualquer, saiba mastigar corretamente, com calma e tenha consciência de que pode suportar me engolir. Posso ser indigesta e deixar um gosto amargo na sua boca.
E, se depois de me digerir dentro de você, me fizer sentir mais viva, relaxe, que é a minha vez de te devorar.


sábado, 6 de outubro de 2012

Depois do Sim

Pior que o medo de dar errado, é o medo de dar certo. Engolir a deliciosa conquista sem saborear. Apavorar sabendo que é pra valer.
Você já tinha reunido todos os traumas, não é mesmo? Posicionado estrategicamente o lenço, preparado o drink. O que fazer agora? Poderia aproveitar todos os traumas bem ali e dizer adeus, balançando o lenço em sinal de paz e beber para comemorar.
Mas não...
Se jogar é melhor, certo? Dizer "o não eu já tenho" e fingir não esperar nada. Como desejar...
E depois?
Depois cabeça baixa, meia volta, passos lentos, passividade.
Depois fúria, depois agressividade.
Depois olhos marejados, e enfim... felicidade?
Se é depois, por que pensar antes?
Por que pensar no perigo, quando o medo é do escuro?
Porque desde sempre o mundo prega que querer é poder e não acreditamos no nosso poder. E não sabemos o que fazer quando a resposta é diferente.
O contra ataque está sempre na manga. A defesa, no olhar. E parece que não sabemos jogar fora o que não nos serve mais.

Me diz, pra quê sofrer por antecipação?
Depois do sim ou depois do não.
Isso a gente pensa depois, então.