"As pessoas não devem se acostumar com o que não faz bem à elas." Ouvi e concordei. Nem era para mim, o recado... naquele momento. Mas temos tantos momentos. Intercalados. Calados. Mudos.
Hábito. Vestimenta para orar ou para viver, é sempre um conformismo. Sem acento é aterro, soterramento.
Okay, tudo bem, pode ser, tanto faz.
Todos os dias, todas as horas, sempre.
E por que sim? Porque não!
Sonhos sufocados em um travesseiro, amores sem entrega, dissabores amargando a língua.
Preguiça do verbo, do movimento. É mais fácil perguntar do que aprender. Abandonar a própria existência e reclamar que tem alguém cuidando dela. Okay, tudo bem, pode ser, tanto faz.
Goste de quem gosta de você, dizem.
Mas ninguém pensa em repetir essas palavras para o destinatário do meu afeto.
Pois eu direi.
"Com licença, perdoe o atrevimento, mas parece-me um bom momento. Se você não tiver intenções direcionadas, poderiam ser bem aproveitadas, nessa pessoa que lhe aborda. Listarei mil razões loucas e, se julgar poucas, posso tentar te conquistar pela boca. Se fizer alguma diferença, já que elogiar não é ofensa, você fez meu coração sorrir. Agora que estou exposta, faça sua aposta. Se nada funcionar, a sociedade há de me ajudar no último apelo clichê. Goste de quem gosta de você. (Por acaso eu já gosto)".
A moda muda, a história se repete, mundo dá voltas e quem casa quer casa. Numa época em que amores eternos duram menos que a bateria do celular e as demonstrações públicas de afeto são exageradas ao ponto de questionar sua veracidade, ainda existe conformismo, comodismo e parceria.
Não mexer em time que está ganhando, ou simplesmente não se mexer. É mais confortável se manter numa situação do que começar outra. E é também mais sábio resolver os problemas juntos do que fugir no primeiro desentendimento. Oportunidades existem aos montes e, como tudo na vida, podem ser utilizadas para o bem ou não. Lembrando que beleza não se coloca na mesa e amor não enche barriga, saber cozinhar ou pedir pizza é importante para uma vida a dois. E que quem ama o feio...
Drummond me vem à cabeça “troiana, mas não Helena”. Porque não é mais preciso ser grega, ser Helena, ou a inalcançável Marília de Dirceu. Os romances travessos desde Brás Cubas e Leonardo Pataca até as versões comportadas (e ao mesmo tempo, rebeldes) de Jane Austen merecem um teto.
O footing moderno dentro de uma casa noturna ao som de uma balada eletrônica não satisfaz por muito tempo grande parte dos novos protagonistas. Que por sua vez procuram a quietude compartilhada mais cedo do que de costume.
E pensar que desde crianças buscávamos independência debaixo de barraquinhas feitas com lençóis amarrados às cabeceiras...
Hoje para-se para ver. Não paga-se para ser.
E, com a benção de um arquiteto, existe um matrimônio. Sem promessas no altar, ou flores enfeitando a entrada do salão. Mas na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, até que a falta de vontade os separe.
Logo varais cheios, bolsos vazios, panelas fervendo... quem sabe noites em claro, quem sabe, dias escuros. Gritos de surpresa, silêncio de dor, guerra de travesseiros.
Mas se ainda houver sorriso, motivo, vontade... ‘que seja eterno enquanto dure’.
À beira do balcão há desespero. Garrafas e garrafas. Cheias de um lado, esvaziando-se do outro. Entornando e tornando-se coragem, desculpa, riso, promessa. Fazendo melhores amigos por uma noite. Intermediando a linha entre encher o copo e esvaziar a mente. O primeiro acorde desperta quem adormecia no silêncio de si mesmo. Encontram-se, amantes da mesma música, filósofos, amores reprimidos, amores descobertos. Vinhos, idos, voltas, revoltas. Goles amargos.
É fim de noite, o riso é fácil, a luz é fraca. Aplausos. Garrafas vazias, coração cheio. Ele sorriu.
Há esperança... além do balcão.