Ziraldo escreveu que o tempo era amigo do menino maluquinho, ele inventava horas a mais para o garoto.
Na página seguinte, a ilustração de um relógio com vinte algarismos.
Centro da cidade de Ribeirão Preto, entre 17h30 e 18h, aproximadamente 30º.
Meninos e meninas maluquinhas travando conhecimento, confortavelmente, em cadeiras de plástico. Uma fila desajeitada decorando a passagem. Um happy hour e tanto!
“Olha a água!”, “Vai um pastelzinho, dotô”
A criatividade formava círculos, semi círculos, fileiras. Como uma sala de aula improvisada, onde se aprende mais observando do que participando, talvez. Ou um teatro em reforma, desmanchando-se na tragédia da vida pública.
Consumismo.
Culpa e/ou glória de D. Luiza? De H.G. Wells? Nenhum. Ou os dois. Além das massas manipuláveis e as maiorias silenciosas.
Mas a intenção não é procurar culpados, e sim consumidores... Compulsivos, desesperados. A ponto de passar a noite na porta da loja. Porque é só amanhã. E amanhã é apenas um dia. O jantar das crianças pode esperar, o banho também. Afinal 30º não faz efeito nenhum em um corpo, já que tem uma lavadora novinha (e barata) esperando lá dentro, e que pode ser parcelada.
E é à sombra das parcelas que a vida tem sentido. A morte demora a chegar para àqueles que parcelam. Ela trabalha disfarçada no crediário.
O varejo inventa parcelas assim como o relógio do menino maluquinho inventa horas. E os consumidores recebem benefício duplo. Parcelam seu tempo e suas compras. E passam a noite em frente à loja reclamando que não tem tempo para nada.
Mas maluquice mesmo é usar uma panela na cabeça.
A fila anda, pessoal.