quarta-feira, 5 de março de 2014

Um toque

Muito fala-se em sentimentos.
E, ao passar para o papel, a memória dos outros sentidos bate em retirada e ultrapassa, desesperadamente, o arrepio do coração. Não há como escapar. Posto que arrepio remete à uma característica tangível. E essa necessidade de toque físico se deve à falta de argumentos para descrever o sentimento de uma forma que ele possa ser visualizado, desenhado, colorido, emoldurado, pendurado... O corpo é a materialização mais fiel das emoções. O corpo chora, lamenta, ri, dança, abraça, respira. E, em meio às vicissitudes da vida, encontra-se uma forma de ser, tangivelmente intangível.


The Doors - Touch me

(Não minto e não exagero quando digo que gosto de quem me inspira, para que eu possa exalar sempre o melhor.)

50 tons de pós carnaval

Amanhece e nem sinal das serpentinas. Há apenas algumas horas, a festa prometia não ter fim. 

Parece até que foi ontem.

Tudo era cor, som, suor e sorrisos. Até mesmo de quem culpa religiões, política e a sociedade pelos feriados, mas que os aproveita como se não houvesse uma quarta feira de cinzas para o retorno ao trabalho.
Pouco antes do meio dia, ruas lotadas, caras amarradas. O sorriso também se foi. As máscaras, nem todas. Trabalhar é preciso. Lógico, porque quem irá atender todas aquelas pessoas irritadas que acordaram com um desejo absurdo de sair de casa e passear pelas lojas, e parcelar, e reclamar que o comércio não abriu cedo? Sim, porque o mundo festeja e ninguém toma conta do caixa, da segurança e das vendas dos antiácidos. Imagina na copa. A la la ô.


segunda-feira, 3 de março de 2014

99.9%

Qual o teor alcoólico do amor? É possível embriagar, mesmo com toda a glicose, da doçura desse sentimento? Quais os efeitos colaterais? Aquela alegria instantânea, depois vômitos, náuseas, intensas dores de cabeça, perda de memória? Cria, por um momento, a coragem necessária para as confissões mais absurdas, os desejos mais secretos, as performances mais improváveis. Imagina-se quanto tempo dura até que se possa começar de novo. Porque ninguém nunca parece satisfeito. E há quem coloque a culpa na bebida. Você colocaria a culpa no amor?


Bush - Cold Contagious

domingo, 2 de março de 2014

AGRADEcimento

Obrigação? Não, obrigada. Qualquer força usada, proferida, lançada, tira todo o agradar de qualquer agradecimento. Deixa só o peso do cimento. Ou toda aquela tara sem o peso.
Qualquer ser, estar, parecer, permanecer, ficar ou outro verbo de ligação que me desligue de mim e me ligue à desconfortos, tire do meu porto e traga o passado morto é desnecessário.  Assim como marcar horário. Como as distâncias não solicitadas, as proximidades não programadas, as confissões afogadas.

Usar a força com brutalidade, pode acabar perdendo a cedilha contra a vontade.





Barenaked Ladies - Told you so

Drops #6

E então eu te vi.
Antes disso, não lembro... como estava, o que fazia, o que pensava…

Até porque tudo sumiu quando você passou. Senti um vento mais forte. Que bagunçava seus cabelos. E seu abraço me fez torcer para que você não percebesse o quanto eu tremia. Só sei que na combinação das cores, na conspiração dos acordes, no pulsar alterado, eu não queria que aqueles segundos acabassem. Você também se sentiu assim?