domingo, 24 de setembro de 2023

o que tá acontecendo, eu nem imagino

Eu quero te conhecer. E não tô falando de saber que tipo de música você curte, porque isso eu já tenho uma ideia e sei que combina com o meu gosto. Nem só do que você costuma fazer aos finais de semana. Isso é bem amplo e muito vago. Quero saber como foi a sua infância, brincando com os seus primos na casa da sua avó (você conheceu seus avós?), qual a matéria que você mais gostava na escola, o que te tira do sério, o que te deixa animado fácil, sua cor preferida, se você também tem reflexões muito loucas depois de assistir um filme. E se eu dormir antes do filme acabar? Quero saber o seu sabor favorito de sorvete. Aliás, você gosta de sorvete? 

E não é que eu não queira transar com você. É lógico que eu quero que a gente percorra o corpo um do outro e descubra, juntos, o prazer de cada ponto. Mas tô feliz com a ideia de ir devagar. Meu interesse é verdadeiro e eu quero sentir cada etapa dessa experiência, sem expectativas ou fanfics surreais. Só me deixa te conhecer.

isso aqui tá muito bagunçado, ah tá, sou eu

 eu gostar de alguém não vai fazer essa pessoa gostar de mim. por mais que haja torcida. a reciprocidade não é mágica, a afinidade não é eterna. e é melhor assim, porque dói demais gostar sozinha. acho até que é por isso que eu vivo criando contos de fadas na minha cabeça. quando eu gosto demais de alguém, esse cara vira um personagem que me quer também, e a gente é feliz junto. sim, eu sei o tanto que é bizarro ler isso. e não tô afim de discursinho de como eu deveria me valorizar mais e saber o tanto que sou boa em várias coisas. inclusive, eu sei no que sou boa, só não falo tanto porque tenho medo de parecer arrogante. mas, ao mesmo tempo, não é questão de eu me valorizar. quero algo bem simples que venha do outro e não de mim. pegar na mão, me abraçar num domingo à noite, fantasiar comigo pra uma festa de halloween. alguém ainda vai falar que me ama de novo, e isso não tem o mesmo efeito que eu mesma falando que me amo ou que sou foda. consegue compreender?

o cara do tictac

A gente se conheceu lá pelos 20 e poucos anos. Tava solteira fazia uns 2 anos e ele menos de 1 ano. Foram uns 10 meses de momentos legais, conversas sobre a nossa formação (que é a mesma), sexo bom e ele me mostrando que tava aprendendo sax. A gente nem sabia o que tava fazendo, eu acho. Eu escrevia sobre ele no twitter, tinha até uma hashtag pra contar que tava feliz com xis, antes do twitter ser x. Talvez ele nem saiba disso. Um dia inventei de desenhar nas balas daquela caixinha de tictac. Fiz carinhas em cada bala, pra presentear ele, do nada. Era meu jeito de dizer que tava curtindo o que a gente tinha. Aquela aventura dos vinte e poucos acabou, ele casou, eu namorei muitos anos e a gente não se viu nesse período todo. A gente nunca se apaixonou. Era mais uma amizade com fogo e benefícios. Uns 12 anos depois, a gente se viu, por acaso. Ele solteiro, eu não. Passados mais uns meses, também fiquei solteira e a gente se encontrou de novo. Eu tava numa fase muito delicada e ter alguém que me conhecia e que me deixasse a vontade foi muito bom pra ajudar com os traumas que eu tinha. A gente continuou sem se apaixonar. Mas vivemos outra aventura, com mais maturidade, dessa vez. Momentos legais, nossa profissão continua a mesma, o sexo ficou melhor ainda e agora ele já toca sax melhor, como hobby. Não teve mais balinha desenhada, mas muitas conversas, pontos de vista e uma paciência pra me ajudar a superar o que eu precisava superar. Valeu a pena.