quinta-feira, 21 de março de 2024

haja amor

Acho que sou viciada em sentir. Tem gente que não consegue ficar só e, por isso, emenda uma relação na outra, só pela certeza que vai ter uma companhia pra tudo, mesmo sem amar, sem coração limpo e com traumas por resolver. Tem gente que se fecha e jura que não vai mais gostar de alguém pra não sofrer de novo. E tem gente, como eu, que não se importa em sofrer, desde que antes desse sofrimento haja amor. 

É como percorrer o caminho começando pelo outro lado. A nossa cultura ensina que a gente precisa se fuder primeiro para depois receber a recompensa. Quando um relacionamento acaba é como se a gente tivesse vivido a fase da recompensa antes, só isso.

Eu gosto de gostar. Desde que me entendo por gente, tô sempre gostando de algum cara. Vivi amores platônicos intensos na adolescência. E, quando você conversa comigo hoje, sempre acha que tô apaixonada, apaixonando ou caçando alguém pra me apaixonar. Um círculo vicioso.

Mas é que a vida parece tão melhor quando se tem alguém para escrever sobre, presentear, mesmo que na imaginação. Alguém que te faz conectar com memes, se identificar com frases de filmes, trechos de música. Imaginar essa pessoa em todas as fotos de paisagens da internet, como se vocês fossem pra lá um dia. Inclusive, lembrei de uma frase da série "you" (eu sei, problemática a série), mas a frase diz assim: "o que você perdeu pra buscar amor com tanta intensidade?" Ainda não consegui responder isso.

E eu nunca fui a pessoa que procura alguém para me completar ou me curar de qualquer coisa. Até porque, evito me envolver se não estiver com o coração limpo. Pra quê vou arrastar alguém pra passar perrengue emocional comigo, né? Gosto de ficar sozinha e descobri que fico bem assim. Mas porque caraleos eu insisto em querer ter alguém fazendo o meu coração arder o tempo todo? Já não moro numa cidade quente o suficiente, não? E geralmente é alguém que não vai corresponder. E eu também não quero ficar com essa pessoa, só sentir mesmo. Que objetivo é esse? Talvez o vício seja em querer tanto reciprocidade, mas ter tanto medo dela, que sempre acho que ninguém vai ter interesse por mim por muito tempo, mas pode ser que isso também seja coisa da minha cabeça, porque o dia que isso acontecer, nem vou ter roupa pra isso. Talvez seja até melhor sem roupa, mas enfim. Fica a reflexão e a recomendação de reabilitação.

terça-feira, 19 de março de 2024

Eu te amo e vai passar

O diálogo mais famoso de fleabag é quando a personagem da Phoebe Waller-Bridge fala que ama o padre gato e ele responde: "vai passar". É um momento angustiante, e eu me derreteria inteira, jogada no chão da cozinha, cada vez que lembrasse dessa cena, se não fosse a compreensão dela no final. Se ela, que foi a rejeitada, logo depois de confessar o seu amor, entendeu, porque eu não entenderia?

Às vezes o amor só não dá mais certo depois de um tempo. Ou não é suficiente, correspondido, esperado, apreciado, existente. E eu não entendo esse sentir, se não quero mais nada.

Quando penso, agradeço a sorte de ter vivido a maior experiência que pude com o amor, com você. Tem gente que passa a vida sem saber o que é isso.

Quando sinto, ainda me rasga de ponta a ponta, que eu chego a virar noites rezando pra não te amar mais, do tanto que dói. É quando eu lembro da cena de fleabag "vai passar". Porque sei que passa. E quando esse dia chegar, vou rir tanto, que nada vai me tirar esse prazer.


(Sim, eu tô extremamente cansada desse assunto, desse sentimento, dessa dor, de pensar e falar sobre isso)

segunda-feira, 18 de março de 2024

igual sorteio da tevê

Faz uns meses que tem um projeto de texto arquivado com o nome "depois de você". Só que percebi que ainda não existe um depois de você, porque, de alguma forma, eu não tô deixando você sair de mim e nem você me deixa sair de você. E pra quê? A gente se gosta, mas não funciona junto mais. 

Não quero ficar presa à uma pessoa que já seguiu a vida e que já tem outra pessoa, você consegue me entender? Parece que você adivinha o momento que eu tô quase te deixando ir e reaparece, aí eu fico com a sensação de esperança da gente ficar junto de novo algum dia. 

É tipo promoção dos anos 90: é só você juntar 20 embalagens, preencher um negócio, comprar um envelope, selo, não esquecer de responder por quem o seu coração apanha e enviar para uma caixa postal. E torcer muito pra ser uma das cartas sorteadas, das que vão jogar em cima do apresentador no palco, ao lado de um carro girando, num intervalo de um programa qualquer. E, se chegar a ganhar, pode nem ser o prêmio que você quer.

É muito trabalhoso e dolorido esperar por você. E ainda não tem garantia que vai dar certo ou que vai ser o que a gente precisa. Já disse, o amor não segura uma relação onde falta tantas outras coisas. Não, eu não sei o que você pode fazer. Se eu não consegui te superar nem sabendo que você assumiu outra pessoa e faz com ela tudo que eu sonhava que fizesse comigo, mas nunca fez, eu não tenho solução mesmo. Você pode falar que me odeia, na minha cara, que talvez eu ainda te queira um dia, pelas memórias, pela burrice ou pelo medo de achar que ninguém nunca mais vai gostar de mim.

Só que, e se alguém gostar e eu não gostar de volta? Eu tô cobrando reciprocidade, não tô recebendo e tô me apegando à uma coisa que não é o que eu quero? Sim, tô conversando comigo mesma e tomando no cu sozinha. É, acho que vai existir o "depois de você", afinal de contas.

quarta-feira, 6 de março de 2024

Linguagem do amor

Acabei de ver uma imagem na internet que dizia: "conhecer restaurantes juntos é uma linguagem de amor". Comecei a chorar. Não conheço ninguém que ama mais isso que você. Sair pra comer, planejar viagem, ser a pessoa do "vamo", dar um jeito de me tirar de casa, porque "ficar aqui dentro sozinha muito tempo poderia me deixar depressiva"... tudo isso era a sua linguagem do amor. E eu, cega por querer tanto ouvir um "eu te amo", sempre achei que não fosse o suficiente. E infelizmente ainda acho. Mas talvez a minha linguagem do amor também não sirva pra você. Por isso não me arrependo de nada, e nem quero voltar, mesmo chorando de saudade. A gente viveu uns bons anos juntos. Até outro dia tava duvidando, mas agora acho que tinha amor sim.

Equilíbrio

A primeira foto que tiramos juntos foi numa gangorra. Em um parquinho atrás do lago de Holambra. Quando você foi conhecer uma parte da minha família. A gente tinha 2 meses de namoro e a legenda da foto era "equilíbrio". Eu achava a gente um casal meio feinho no começo, então quis começar com uma foto conceito. Pode rir. E não é como se você fosse compartilhar a foto. Você também não fazia questão de exibir a nossa relação por aí. Eu pensava que a gente não fosse durar. Tão diferentes. Nem imaginava que fosse te amar tanto e querer contar a nossa história pra todo o mundo.

terça-feira, 5 de março de 2024

Fleabag e detox

Fleabag é um bombardeio de emoções e não sei dizer até que ponto é bom se identificar com uma protagonista fudida, triste, insegura afetivamente e viciada em sexo com pessoas aleatórias. Até porque, esse último me pegou forte. Daí lembrei daquela frase do Gabriel García Marquez, em memórias de minhas putas tristes: "o sexo é o consolo quando o amor não nos alcança". Isso é mesmo problemático ou a base social em que fui criada é que me faz sentir culpada por praticar isso?

Fleabag é drama, mas também é comédia romântica, só que não segue a receitinha de bolo de nenhum desses gêneros. Se eu terminei a série melhor que comecei? Acho que sim. Ainda mais eu, que mesmo tendo sido forjada nas comédias românticas dos anos 90 e 2000, já caí na real que final feliz nem sempre é ficar com o mocinho. E que só amor não segura relação, ainda mais quando é unilateral.

Na temporada atual da minha vida não tem padre, mas tem a recomendação do psicólogo para desintoxicar de me sexualizar constantemente para preencher o vazio de sentir "o fim do mundo todo dia da semana", como diz a música Refrão de Bolero. Então entre divagações sobre solitude e solidão, uma lista de filmes com finais felizes e idas sozinha ao teatro, tento não buscar envolvimentos rasos por aí. Todo dia parece um ritual de despedida de uma vida retirada da ficção.

Seguimos.

segunda-feira, 4 de março de 2024

Catchup e Mostarda

Todo dia 04 era dia de festa, do nosso jeito. Ou a gente saía, ou viajava (você amava essa opção mais que tudo), ou ficava pra fazer janta juntos e assistir algum filme que tivesse final feliz e paisagens de outros países, porque assim agradava os dois. A invenção do termo "mesversário" nunca foi tão bem aproveitada. A gente não tinha nada a ver. Eu escutava isso desde o começo até depois do fim. O gosto musical, tipo de rolê, sabores de pizza. Inclusive teve aquele vez no rodízio que passavam com dois sabores e o que eu escolhia você não gostava e vice versa. Opostos complementares. Eu cerveja, ele vinho. Nenhum dos dois café. E quando, sem querer, a gente saía um de vermelho e um de amarelo, sem combinar? Isso acontecia muito. Então a gente olhava pra cara um do outro e falava "catchup e mostarda", por mais que a preferida dos dois sempre fosse a maionese. Era uma coisa muito nossa, igual quando os casais colocam apelidos carinhosos um no outro, sabe? Um dia eu até tentei, na brincadeira, porque sempre achei brega, então permaneceu secreto, como várias outras coisas, dessas que a gente entende só de olhar um para o outro. São muitas memórias. Não quero esquecer, só quero que não fique doendo. Feliz dia 04. Espero que você esteja bem.

(hoje seriam oito anos, desde aquele beijo "só pra ver se vale a pena", e valeu)