terça-feira, 25 de junho de 2024

comida e amor próprio

Uma vez o psicólogo perguntou qual era a minha relação com a comida. Pensei sobre todos os lugares legais que já tinha tido a oportunidade de ter uma experiência com uma refeição. E respondi que minha relação era ótima. Até me lembrar que a maioria das vezes eu ia pela companhia e a minha companhia ia pela comida. Então comecei a pensar se eu tinha um prato preferido, uma culinária que me agradasse mais. E isso me despertou pra uma coisa. Acompanhem.

Tô na TPM e me deu vontade de comer casadinho. Aí fui fazer, derrubei leite condensado no fogão, errei a proporção de chocolate, não quis seguir receita, coloquei pra gelar sem o menor cuidado de colocar o filme em contato. Foi então que reparei que, por mais que eu seja dedicada e goste de cozinhar para os outros, quando faço algo por mim é sempre do jeito que dá. Se falta ingrediente eu improviso, se derruba nem lamento, se passa do ponto tá tudo bem também. Essa falta de capricho comigo mesma me faz pensar o quanto talvez pareça que eu não me ame o suficiente e, talvez, por isso, pense que sou difícil de amar. 

Enquanto enrolava o doce, fiquei pensando. E isso já me fez perceber que, pelo menos, esse cuidado eu tive, já que não gosto muito de brigadeiro de colher, acho um improviso preguiçoso. Então fiz questão de enrolar tudo, do jeito que gosto.

Essa reflexão me fez encontrar minha comida preferida, e descobri que não tenho só uma. Sempre gostei muito de pizza, a mais básica possível, sem muito recheio, só que nunca nem me aventurei em fazer a massa e o molho do zero, por exemplo (taí uma ideia pra praticar). Tenho dois PFs queridinhos também, que são arroz, feijão carioca com caldo grosso, salada de alface com limão e banana frita e outro de macarrão alho e óleo com salada de maionese. O primeiro me lembra um pedacinho da infância e o segundo eu já fiz tanto pra mim mesma que me conforta. E foi aí que fez todo sentido a existência do termo "comfort food". A comida é tão universal, essencial, nostálgica, que não alimenta somente o corpo. Parece óbvio, mas quando você passa um período sem sentir prazer por comer, é como se estivesse se redescobrindo através do paladar.

sábado, 22 de junho de 2024

o cara da comédia romântica

Conheci alguém. Ele me trata bem, conversa sobre tudo e me proporciona momentos dignos de uma comédia romântica. A gente dançou outro dia, do nada, no meio do apartamento. Nem lembro o que tava tocando (a gente tem mania de bagunçar toda a playlist o tempo todo e eu amo!). Foi um dia em que ele apareceu de surpresa. Me abraçou enquanto eu cozinhava. Me olhou com vontade enquanto eu tava ali, só existindo. Eu nem lembrava a última vez que tinha sido desejada daquele jeito. E a gente fez coisas que me deixam arrepiada até agora, só de pensar. Tem hora que me beliscar não é suficiente. Então eu mando mensagem e a gente começa a falar daquele dia, e de todos os outros que a gente ficou junto, apreciando a companhia um do outro. E o carinho, o diálogo, o sexo, aquele grude na hora de ir embora, já querendo que ele voltasse. Uma boca com sabor de recomeço, sabe? Demorou pouco mais 6 meses entre a gente se conhecer e se beijar. Até porque a gente nem tinha interesse um no outro. A gente tinha se visto uma única vez, por uns 10 minutos. E agora eu conto as horas pra ver de novo.

Sei que tem cara de história inventada, mas sempre parece ficção quando conto só a parte boa. A gente tem traumas, problemas e uma baita dificuldade pra se encontrar. Os encargos da vida adulta e o capitalismo complicam muita coisa. E a auto sabotagem. Ela vem forte demais. É quando eu acho que não mereço um capítulo assim na minha vida, é aquele "bom demais pra ser verdade". Fico me preparando para o dia que ele vai perder o interesse e eu vou chorar. Essa é a hora em que eu respiro fundo, tento relaxar (sem muito sucesso), e com muito custo, falo pra mim mesma: ninguém, muito menos eu, vai me tirar essa sensação boa. Mesmo que seja passageira. E vou dormir.

fechamento

Um dia a gente cansa de tantos começos breves. Aquele vai e não vinga. É aí que o coração esfria, a fé enfraquece e a gente se pega aceitando migalhas novamente, pra satisfazer curtos momentos de prazer. E, ainda assim, me sinto a moça que oferece cartão da loja quando alguém aceita fazer o cartão. Perdidíssima e contemplada. E com fé no final feliz. Que, nesse caso, é uma aprovação seguida de uma comissão. Mas porquê precisa chegar no final pra ser feliz? Talvez porque os começos já são, por padrão, felizes. Já que a gente tá na empolgação, e também ainda não conhece bem os defeitos da pessoa. Tudo é novo e recheado de primeiras vezes juntos. O meio também é feliz, só que a gente só se dá conta quando passa do final, que geralmente é triste. Até porque, se é feliz, porque finalizar? Isso me lembra que eu tenho esse amigo, e ele sempre que tá em um relacionamento, se refere à namorada como "meu fechamento". Eu achava gíria de jovem, exagero, sei lá. Talvez eu tenha perdido um pouco a esperança em alguns momentos, mas ter alguém que fecha com você deve ser bom demais. Fechar no sentido de guardar é proteção de algo importante, tipo a pedra filosofal, ou algo assim. A gente fecha janelas, portas, casacos, potes (caso não tenha perdido as tampas) pra conservar, aquecer, durar mais. Quando a gente se fecha para algo, é o medo de arriscar, de sofrer, de aguentar sozinha. Mas quando alguém fecha com a gente, esse alguém te dá a mão, acompanha, te completa, preenche o que falta. Não deixa de ser um cuidado também. Viajei aqui, mas a ideia é muito boa. Quem sabe um dia eu me abra para ser o fechamento de alguém.

para todos os finais de domingo

Quem eu vou amar agora? Parece uma pergunta bem ridícula. E quem vier responder "você mesma" vai apanhar. Ouvir isso é tão chato quanto gente te mandando prestar concurso pra ser alguém na vida. O amor próprio não vai deitar do meu lado e passar a mão no meu cabelo no final do domingo. Tô tão cansada de precisar ser forte o tempo todo, enquanto o tanto de amor que tenho dentro de mim apodrece por não ter destinatário. Dramática sim. Me deixa. Acho que todo mundo chega num ponto de carência parecido, em algum momento. Não é porque eu não quero casar ou assumir um relacionamento agora, que significa que quero estar só sempre. Todo mundo merece um chamego de vez em quando, daqueles que o relógio para quando tá junto, sabe?

sexta-feira, 21 de junho de 2024

estilhaçada

Há exatamente um ano, nesse mesmo horário, eu tava me preparando pra viajar e realizar o sonho de sentir a neve de pertinho. É um sonho básico, mas pra mim era bem forte. Tinha passagem, hospedagem e uma boa companhia. A gente tinha feito aquilo tantas vezes juntos. Passar horas em aeroporto, viajar de ônibus de madrugada, vigiar as malas pra ir ao banheiro, revezar no sono pra um tomar conta do outro. Hoje eu enxergo um tanto de carinho nisso. Dessa vez era diferente, só que a ficha não tinha caído pra gente ainda, eu acho. Foi a melhor viagem. Lembro que antigamente ele contava os dias e mandava mensagens pra me lembrar. E eu fingia que não ligava tanto, mas tava empolgada pra gente poder dormir junto, porque era uma das poucas oportunidades de isso acontecer.

Aí eu tava aqui pensando no que escrever sobre isso e a minha playlist tocou uma música chamada "shattered" no aleatório. Escuto sempre ela, mas foi interessante nesse contexto, em que eu tava me sentindo realmente "estilhaçada", mesmo que por uma memória tão feliz.

Quantas vidas será que eu vivi enquanto tentava te esquecer?