Uma vez o psicólogo perguntou qual era a minha relação com a comida. Pensei sobre todos os lugares legais que já tinha tido a oportunidade de ter uma experiência com uma refeição. E respondi que minha relação era ótima. Até me lembrar que a maioria das vezes eu ia pela companhia e a minha companhia ia pela comida. Então comecei a pensar se eu tinha um prato preferido, uma culinária que me agradasse mais. E isso me despertou pra uma coisa. Acompanhem.
Tô na TPM e me deu vontade de comer casadinho. Aí fui fazer, derrubei leite condensado no fogão, errei a proporção de chocolate, não quis seguir receita, coloquei pra gelar sem o menor cuidado de colocar o filme em contato. Foi então que reparei que, por mais que eu seja dedicada e goste de cozinhar para os outros, quando faço algo por mim é sempre do jeito que dá. Se falta ingrediente eu improviso, se derruba nem lamento, se passa do ponto tá tudo bem também. Essa falta de capricho comigo mesma me faz pensar o quanto talvez pareça que eu não me ame o suficiente e, talvez, por isso, pense que sou difícil de amar.
Enquanto enrolava o doce, fiquei pensando. E isso já me fez perceber que, pelo menos, esse cuidado eu tive, já que não gosto muito de brigadeiro de colher, acho um improviso preguiçoso. Então fiz questão de enrolar tudo, do jeito que gosto.
Essa reflexão me fez encontrar minha comida preferida, e descobri que não tenho só uma. Sempre gostei muito de pizza, a mais básica possível, sem muito recheio, só que nunca nem me aventurei em fazer a massa e o molho do zero, por exemplo (taí uma ideia pra praticar). Tenho dois PFs queridinhos também, que são arroz, feijão carioca com caldo grosso, salada de alface com limão e banana frita e outro de macarrão alho e óleo com salada de maionese. O primeiro me lembra um pedacinho da infância e o segundo eu já fiz tanto pra mim mesma que me conforta. E foi aí que fez todo sentido a existência do termo "comfort food". A comida é tão universal, essencial, nostálgica, que não alimenta somente o corpo. Parece óbvio, mas quando você passa um período sem sentir prazer por comer, é como se estivesse se redescobrindo através do paladar.