Solidão é um perigo, né? Qualquer intensidade extrema também. Acho que isso foi redundante. Já dizia minha mãe: "tudo que é demais faz mal". E eu acrescento: desde tristeza até água. Ficar só, por uma escolha, passar momentos em silêncio fazendo nada é uma delícia. Sentir só é que dói, porque isso pode acontecer até no meio de uma multidão, no show da sua banda preferida. E, se já não tá num momento bom, pode trazer uns pensamentos intrusivos horríveis.
Acordei e continuei deitada, como qualquer outro dia. Quando se vive numa era de internet, não precisa de muito pra começar o dia, socialmente falando. Celular na mão, conversas atualizadas, levantei, escovei os dentes, troquei de roupa, abri a janela, fechei de volta, deitei de novo. Fechei os olhos, só queria acabar com esse cansaço que bateu do nada. Dei uma leve cochilada de pouquíssimos minutos, talvez cinco ou dez. Virei de lado, meus olhos começaram a escorrer. E a evolução desse choro me trouxe situações imaginadas que chego até ter vergonha de contar.
Olhei em volta, preciso limpar esse apartamento, me imaginei no corredor do mercado, procurando o produto de limpeza mais forte, que me deixaria tonta só de sentir o cheiro e me deu medo da escolha que eu poderia fazer de desinfetante. Calma, eu não tenho essa coragem. E não me odeio, só me sinto só. Isso passa.
Não vou fazer nada, não quero dar trabalho pra ninguém. Perdi um pouco do prazer em comer, meu sono tá caótico. Mas não faz sentido eu pensar em nada disso. Tentei recuperar meus planos bons na cabeça, minha viagem dos 40 anos, qualquer outra coisa. Nesse momento tudo parece impossível, mas acho que as crises são pra isso, pra questionar. Então pensei: vou produzir, trabalhar nos projetos em andamento. Provavelmente vai ser isso que vai me arrancar da cama mais fácil. E é tão triste que nos nossos piores momentos, a gente se afunde no trabalho. A sociedade é podre. E ainda assim, ela não vai se livrar de mim tão fácil.