domingo, 24 de novembro de 2024

nem era hora disso

Pra que santo a gente pede quando precisa desgostar de alguém? E esse pedido se faz necessário meio que urgentemente porque, depois de você, todo beijo ficou duro, todo flerte ficou sem graça, não quis mais transar e ninguém mais me chamou a atenção do mesmo jeito. A gente nem chegou a ser um nós. E eu só me dei conta que gostava (e precisava desgostar) quando senti todo o sangue do meu corpo desaparecer assim que botei meus olhos em você, 43 dias depois do nosso último beijo, que eu nem sabia que seria o último até agora (e nem queria que fosse também). Mas respeito é isso, eu sem te procurar desde que cada letra do seu "não estar disponível" chegou pra mim, como uma notificação decente de consideração, seguida de uma inevitável tristeza não programada. Não vou mentir que durou umas horas. Até que te vi pessoalmente, a pressão baixou e eu nem sei explicar o que senti depois. Você ainda mexe comigo mais gostoso que o movimento tímido da sua boca apertando e seus olhos inquietos. Queria ter trazido você pra casa pra dormir abraçada. Ao invés disso, só vim pra casa descansar, e cansar minha memória e sorriso,  lembrando, em loop infinito, de você. Talvez eu pareça mais romântica escrevendo que agindo, mas isso não importa. A Priscila sem gostar é muito mais produtiva, e é disso que preciso agora. E não é não gostar de ninguém, é não gastar tempo buscando reciprocidade onde não tem. Mas obrigada pelo seu sorriso lindo. É com ele que vou dormir na cabeça. 


* a vida é mesmo um eterno gostar sem escolher e tentar desgostar quando não é escolhida, pra não sofrer. Seguimos, que uma hora vai.

terça-feira, 5 de novembro de 2024

não é sobre celulares

Quando eu tinha uns 24/25 anos, fui assaltada à caminho do trabalho. Eram umas seis e pouco da manhã, um cara me abordou, ainda dentro do bairro, com a mão dentro da camiseta, pedindo meu celular. Com sono e de fone, nem percebi o que estava acontecendo. Ele chegou tão perto de mim que eu travei, consegui puxar o celular do bolsinho lateral da mochila e entreguei. Ele só saiu andando, perdi de vista muito rápido. Virei a primeira rua, dei uma volta enorme, olhando pra trás o tempo todo, corri loucamente pra casa, bloqueei o cartão do banco, o chip do celular e avisei a empresa que ia atrasar.

Depois disso, fiquei algumas semanas sem telefone. Em 2012 a sociedade já dependia bem da vida online, mas eu não podia comprar outro, então o jeito foi esperar. Lamentei ter perdido as fotos que tirei com o Apanhador Só, no primeiro show que fui deles (eu ainda não tinha o costume de jogar tudo na nuvem, aliás, já era comum usar nuvem?) e a possibilidade de ouvir música enquanto tava na rua. Fora isso, não me fez tanta falta quanto pensei que fosse fazer.

Hoje eu acordei com a confirmação de um rompimento. Respondi e agradeci a sinceridade. Ele foi legal (essa história vai fazer sentido, eu juro). E, além de um pouco de choro, um tempo de qualidade com meus sobrinhos e tentar remediar a tristeza com alguma fritura, o algoritmo do instagram me arremessou um vídeo sobre como superar alguém que não te escolheu. A primeira coisa que a moça do vídeo fala é para agradecer a pessoa, mentalmente, porque ela tá te mostrando que não é a sua pessoa e tá te redirecionando pra onde você tem que ir. E conclui falando para se afastar, que é o que o meu psicólogo fala, incessantemente, desde que acabou meu último namoro.

Com vinte e poucos anos, durante aquelas semanas, cada dia que passava sem celular, sentia menos necessidade dele, até esquecia que já tinha achado tão essencial na minha vida. Ocupei meu tempo com outras coisas e, quando pude ter outro aparelho, passei a usar com mais cuidado e sabedoria. Isso, definitivamente, não é sobre celulares roubados às seis da manhã.

aceito os termos e quero continuar

- Você acha que colocou muita intensidade no começo?

- E eu sei ser de outro jeito?

Era uma sexta feira quando minha autoestima de centavos e eu contamos pra um amigo que eu tinha conhecido alguém, mas achava que já tinha estragado tudo. Eu queria não ter deixado transparecer que tava curtindo muito, porque talvez assim continuasse gostoso como era no começo, naquela fase em que ele me chamava pra sair e mandava mensagem falando que queria me ver. Então eu comecei a sentir saudade e falei que tava curtindo, aí ele explicou que não tava na mesma e preferiu se afastar. Ele foi decente e eu logo me dei por vencida porque, como diz meu psicólogo, eu suponho demais, sem saber realmente o que tá acontecendo e sem antes perguntar.

Sei que o começo não dura pra sempre, só que talvez eu seja ou esteja tão carente, e queira tanto um colo, um chamego, um romance de cinema que não existe (mas mereço), que me sinto negligenciada o tempo todo. 

Sabe aquela mentira que, de tanto que a gente conta, até a gente acredita que seja verdade? Eu falo tanto pra todo mundo que não quero namorar, que nunca quis casar ou morar junto, que comecei a acreditar nisso. E falava isso porque sempre tive medo de ninguém nunca querer qualquer dessas coisas comigo e eu ter que lidar com mais rejeição. Tinha época que não queria mesmo, mas eu nasci pra estar apaixonada e receber afeto, poxa. As coisas mudam.

Hoje li sobre o amor moderno e sua bizarra mecânica de que mostrar interesse é um ato de vergonha. Na hora passou um filminho das vezes em que eu caí nisso de tentar sentir o mínimo possível pra não perder as partes boas que já tinha. Isso não combina comigo e, de novo, eu sei ser de outro jeito?  Quanto tempo uma canequinha leva pra encher essa minha caixa d'água de emoções, pra eu poder mergulhar segura?

Falar encurta tanto o caminho. E nem acredito que eu, a maior defensora da comunicação aberta, escolhi me segurar e aceitar o mínimo de afeto, porque era "melhor que nada".

Só fala.

"...se a reação da pessoa for a mesma que a sua, veremos a Priscila em um domingo à tarde, abraçadinha no sofá vendo um filme terrível de romance". Chorei quando o meu amigo mandou essa mensagem. É isso. É justo comigo e com o outro.