sábado, 28 de dezembro de 2013

Drops #2


Eu sei, me perdoe.. já estava assim quando você chegou. Quebrado, bagunçado, abandonado. Mas eu arrumo, remendo, deixo bonitinho pra você poder entrar, habitar, se sentir em casa. Pode não parecer muito mas é meu e pode ser seu também. Vem cá, puxa uma cadeira, pega uma vassoura, deita no meu colo. E vamos redecorar.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Drops #1


Sempre gostei de embalagens individuais, porções individuais, lugar pra um. E acostumei a sair sozinha, sem rumo, até que peguei gosto. Não era egoísmo, era gosto, e gosto não se discute. Até que você apareceu. Agora eu emolduro um espacinho ao meu lado, esperando que um dia você queira estar ali, fazendo parte de mim, individualmente, coletivamente, intensamente… aceita?



sábado, 21 de dezembro de 2013

Do avesso

Será que eu posso me considerar uma pessoa de sorte por te conhecer?
Além de todos os outros fatores desse mundo.
Por ter o privilégio de, entre tantas pessoas que passam e viram a cabeça e desviam o olhar, você me virar do avesso. E não se importar com a etiqueta gasta, os bolsos pendurados, as costuras tortas, as linhas soltando, o reflexo desbotado do lado de fora...
Eu poderia nunca ter conhecido meu avesso. Poderia ter passado horas, dias, meses, anos só te olhando. Imaginando como seria sua voz, seu sorriso ao olhar pra mim, projetando uma intimidade. Seria tão lindo, épico, invejado, idiota. Poderia, mas não fiz. Preferi arriscar e me apresentar, arriscar e te conhecer. E descobri que não havia risco nenhum nisso. Teria sido um risco (ou um rabisco todo) não tê-lo feito. E ter que passar pela multidão imaginando como seria...
Sorte nossa então, pela sua existência cruzar com a minha.


38 Special - Somebody like you

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Meu eu

Outro dia meu eu-lírico virou um eu-mímico. 
E passei a não me dirigir a palavra. 
Éramos gestos, movimentos, olhares dispersos.
Tentativas falhas de humor silencioso.

Batia contra a parede de vidro invisível
Enquanto a tinta branca do rosto escorria empurrada pelas lágrimas

Era um cruzar de braços
um fechar de olhos
um engolir de saliva
Discussão presa na garganta
que sobrevoava os fios rebeldes do cabelo ondulado
como se silêncio fosse apenas ficar calado
Amuado.

E, de pensamento atormentado
linhas certas, texto errado
retomou com cuidado
a rima que estava de lado

E num grito sufocado
dedos enluvados
braços esticados
olhos inchados
estávamos separados.


The Verve - Lucky Man

sábado, 7 de dezembro de 2013

Matemática

Um coração.
E toda aquela história de procurar outro pra ser feliz.
Acha, divide o seu e completa com outro.
E fica com, vejamos, metade seu e metade de outro.
Ou seja...
Um coração.
A não ser que me engane
A não ser que tenha feito conta errada.
Eventualmente ele se parte, quebra, dissolve, 
é esmagado pela devastadora dor do não, do 'não mais', do acabou.
E lá vai dividir de novo
E pegar a sua parte original 
(agora suja, mal cuidada, mal amada, destruída)

Então me façam entender
Corações em dois
partidos ou compartilhados
são sempre divididos.
É isso?



Crowded House - Four Seasons in one day

domingo, 1 de dezembro de 2013

Incomplet_

Saia da minha cabeça ou entre na minha vida!
Não me venha com meios termos. Se for assim, melhor nem sermos.
E se não vier por inteiro. Nem tire minha cabeça do travesseiro


Se conforma com mais ou menos, quem sonha sonhos pequenos.


E eu sonhei com você.


Mas perdoe o devaneio, é que você não veio
Talvez eu não tenha dito antes, mas parecíamos tão distantes
E passei a te querer perto, como tudo que é certo
Pra tudo, pra nada, por hoje, pra sempre.
Perdi coragem, oportunidade, razão

e então…



sábado, 30 de novembro de 2013

às voltas

Eu e você nem sempre somos nós
aliás, nem sempre somos... eu e você de fato
podemos ser outras pessoas
em outro tempo, outro retrato
ou outras pessoas podem ser a gente
imperceptivelmente
eu posso ser você
você pode ser eu
num piscar de olhos
ou num fechar de olhos,
despretensioso ou proposital
e, em todas essas idas, paradas e vindas
em todos esses nós apertados
de desencontros encontrados
podemos ainda, nunca sermos nós.



domingo, 24 de novembro de 2013

Doação.

Existe bazar, leilão
tantos tipos de comercialização
e a gente ainda insiste em, simplesmente, dar o coração

Há tantos passando fome
gente sem casa, sem nome
que não se farta com o que se consome
quando ganhado de bom grado
sem ser ligeiramente cobrado

Não há valor no que se recebe
se não for uma troca breve
em centavos, parcelados, um doze avos
escambo ou outros valores reais
pague menos, leve mais

Propaganda enganosa
de noite maravilhosa
vida gostosa
mundo cor de rosa

Há desconfiança no que vem de graça
tão certa como tudo que passa

Mas a gratidão é um pagamento
que não sai do bolso
que não solicita senha sequer
como o brilho das moedas esquecidas num bueiro qualquer



quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Nem tudo é

Se eu disser sim
O que vai acontecer?
Vai dar vontade de te ver
Hoje, amanhã e no dia seguinte?
Ou quem sabe na próxima vida
Alguma coisa vai mudar
Dessas fáceis de notar?
A gente vai poder voar,
O mundo vai parar,
Vou aprender a te gostar? Será?
Vai ter beijo jogado de longe
Cama bagunçada
Promessas extraordinárias?
E se eu disser não?
Não me diga que vai ter briga?
E fazer as pazes com macarrão
Boliche, música, sorvete com cereja.
Porque nem tudo é sexo
Nem tudo é beijo na boca
E mesmo que seja
Como acreditam por aí
Que tudo é melhor aos pares
Olhos, mãos, amores
As cores são muitas e o sonho pode ser de um só
Nem sempre a felicidade é assim
Fruto de um simples sim

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Estático

Sabe quanto tempo eu fiquei olhando pra você hoje? Bem aqui, dentro da minha cabeça, dentro de mim? Imaginando, apenas. Sabe quanto tempo você está aqui? Estático, olhando para mim? Querendo me dizer alguma coisa... será? Ou não. Esboçando o que poderia ser um sorriso, enquanto eu rio sozinha ao lembrar dos nossos (des)encontros. Gosto de te guardar assim, olhando para mim, enigmático, sedutor. Poderia te emoldurar, mas assim não saberia do que pode ser capaz. O que pensa, o que faz... Enquanto você nem imagina. Pare com essas circunlocuções! Protesto à mim mesma. Quero ver suas expressões, seus movimentos, te conhecer, sentir seu gosto mais uma vez...

sábado, 14 de setembro de 2013

Pesadelos

Pesadelos. E o que daria para detê-los. Esquecê-los. Não tê-los!
Pouparia o coração assustado. Existem melhores motivos para deixá-lo acelerado.
E por que é mais fácil lembrar de um sonho ruim do que de um sonho bom?
Por que o vazio inspira e a felicidade parece ter sua finitude tão breve? Como se atreve?
A humanidade e sua necessidade de sofrimento, a intensidade desse tormento, como se a felicidade fosse um evento, uma recompensa pelo bom comportamento.
E, em meio às marcas de mais uma noite mal dormida, todas as indagações da vida, pairando sobre mim entre mentiras e verdades
Enquanto ao redor, tanta raiva reprimida, tanta tristeza sentida... pouca força de vontade
Que às vezes é melhor ficar escondida, do que sentir culpa por sentir a tal felicidade.


Incubus - 11 am

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Equilíbrio

Desde crianças, o certo e o errado
Diante da crença, o bem e o mal
Diante da verdade, o positivo e o negativo
Diante da dúvida, os prós e os contras
Diante da certeza, a saúde e a doença
Diante da vida, o começo e o fim
Diante do egoísmo, o subjetivismo
Desde que o mundo é mundo, a busca interminável por equilíbrio
Para que pesar sentimentos, especialmente aqueles que te fazem sentir leve?



quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Ser forte

Será que ser forte é aguentar ver alguém que se ama morrer e seguir em frente? Ou seria aguentar ver alguém que você ama viver sem você e seguir em frente?
Seria carregar peso, nas costas, nas mãos, na cabeça? Medir em gramas, quilos, tempo, intensidade. As nossas, as suas, as minhas dificuldades. Problemas, como rotulamos. Que aumentam através dos anos. E que não nos livramos. Divagações recorrentes e soluções tão transparentes, que não enxergamos à nossa frente.
Qual o peso de uma pedra nas costas? Pra quem recebe? Pra quem joga?
Ou de uma notícia carregada através dos tempos? De um segredo, de uma saudade?
Uma alma pode pesar mais que um corpo, mas a gente não recebe mais do que pode aguentar, não é mesmo?
E não importa a ambiguidade das lágrimas, a gravidade sempre se encarrega de enterrá-las.



Maior que

Eu sempre quis ser pequena. Sabe assim, baixinha, que coubesse no colo, no abraço, protegida e com apelidos no diminutivo? Para ter as pernas balançando no banco da praça, a cabeça que não atrapalhasse as pessoas no cinema. E então eu cresci. E isso eu não pude evitar. E percebi que ser grande não era questão de tamanho. De alcançar o varal, o pinguim da geladeira ou trocar a lâmpada sem precisar subir todos os degraus da escada. Era ter os pés no chão e a cabeça nas nuvens... Os grandes sonhos e a boa vontade podem vir de todas as pessoas, independente do comprimento das pernas ou do quanto os braços podem alcançar. Tamanho não é documento, nem desculpa para diminuir as pessoas. Até porque o mundo é grande e, de longe, todo mundo é um pontinho. É de perto que conseguimos perceber a grandeza das pessoas. Ou a falta dela. E o que podem fazer com a gente. Eu sempre quis ser pequena. Só não queria me sentir tão pouco às vezes.


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Amanhã

Hoje eu nem precisei de maquiagem. Ontem voltei até sem batom. Mas com uma expressão melhor. Hoje eu fiquei lembrando de ontem e como quero que exista um amanhã. Confesso que ontem eu nem imaginava, por isso hoje não me arrependo e amanhã só sei que eu vou. Troco fácil dores de cabeça por um corpo cansado de tanto dançar. Uma boca dolorida de tanto sorrir. Uma falta de ar, de tanto suspirar. E é de se pensar que eu não beijaria de olhos fechados se não fosse para encontrar, ao abri-los, seu sorriso a me esperar. Ontem descobri que não era tarde, e que a tal da felicidade não é fácil esconder. Hoje eu experimentei não passar vontade, cortei a tristeza pela metade e picotei até desaparecer. Amanhã vai ser novidade. E se eu não lembrava de verdade, agora nunca mais vou esquecer.



sexta-feira, 2 de agosto de 2013

De caso não pensado

Eu pensei que o tempo iria consertar. Como se algo estivesse quebrado. Que quando entendesse, iria passar. Como se eu tivesse sonhado. Pensei que a distância iria ajudar. Como se alguém estivesse trancado. Pensei demais ao pensar. Se ao menos nem tivesse pensado... Já que não via nada de errado. Ou se houvesse como pensar direito. Me pouparia da dor no peito. Aliás, quem vê erros no amor? Então não culpemos a personagem por saber menos que o narrador. Aos meus olhos, ao meu coração. Nada te tiraria de circulação. Nem do espaço, do tempo, das minhas veias, livremente! Das vontades que se tornaram sonhos pra gente. Perdoe se perdi o controle, se algum dia meu abraço foi uma prisão, essa não era a intenção. Se minhas palavras lhe pareceram venenos. Ah, como às vezes eu queria ser menos! Pra que você parasse de se reduzir, e a gente pudesse crescer e ir. Até a lua, ida e volta. Ou em qualquer lugar que existíssemos no passado. E se tivesse olhado por outro lado, eu que teria terminado.



Eu só queria te dizer...

Eu só queria dizer... Mas 'queria' é passado, e talvez já não importe mais. Pode ser que sim, já que veio à tona, mas essa mania de querer e não fazer na hora me afoga. Contudo, eu ainda quero dizer. E saber se você quer ouvir. Porque isso faz toda a diferença. Caso contrário, o pólen das minhas palavras se perderia entre falsos alvos e corações sufocados. Quando minha intenção é o seu coração. Sempre foi. Todo o carinho embrulhado para presente, e que eu fazia parecer o acontecimento mais importante do universo. Só pra conseguir que seus olhos, sua boca, qualquer pedacinho seu puxasse um sorriso... Me desconsertava. E queria te abraçar, e ficar te olhando dormir, e não soltar suas mãos nunca... Eu poderia ter ficado louca, mas onde fica a sanidade de uma pessoa apaixonada? Antes eu queria te conhecer, depois te querer. E agora, eu só queria te dizer...


Delírio VII

Tem alguma coisa muito errada.
Então é porque a certa está guardada
em algum lugar

Se não for gastrite, é saudade
ou talvez nem seja enfermidade
dessas que valha a pena tratar

Parece que falta um pouco
mas é melhor do que um sufoco
que não dá pra se livrar

E para que arriscaria então
conseguir sua atenção
se não pudesse recompensar?

Tem alguma coisa muito errada
Então é porque existe uma certa
E que vale a pena tentar.



quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Packshot

Feche os olhos. Respire fundo e me sinta. Meus olhos também estão fechados, pode acreditar. Se estiver com medo, segure a minha mão, porque eu também estou e nós vamos pular juntos. E só vai haver queda se você acreditar que vai cair. O impulso pode começar debaixo mas pular é sempre pra cima, o que acontece depois é coisa da nossa cabeça. Imagine o vento se apertando ligeiro entre nossos corpos e nos balançando sem rumo. Pra longe. Pra perto. O que sente? Nossas mãos entrelaçadas? Sente meu coração? Ele está sorrindo pra você. Abra os olhos. A embalagem é essa... e não é retornável.


domingo, 21 de julho de 2013

Embriaguez

A madrugada embriaga. E os pensamentos fluem como aqueles que descem com a água do chuveiro. Por que ele? Por que não? E entre o medo da sorte ou do azar, a gente acaba pensando que gosta da solidão. Parece? Talvez. Então talvez eu goste. Mas se a solidão é a sensação de vazio, como alcançá-la de cabeça cheia? Esvaziar. Colocar para fora. Palavra, som, suor, lágrima. E, se houver resposta, já não há mais solidão. Só escuridão. Quem sabe, recordação. Ou não. Hábitos... de vestir, de comer, de pensar que a companhia é essencial. Em corpo, alma, mãos dadas, eu-te-amos, só-vou-se-você-for... Não é por mal, o mundo prega, cabe a nós bater ou não esse martelo e arriscar a probabilidade dos calos nas mãos ou massagem nos pés. Calo é resistência. Massagem é vulnerabilidade. Pontos de vista. Ou invista nos pontos.
Não dá pra viver vicariamente.


sábado, 22 de junho de 2013

ManINfesto

Paz: estado de calma, tranquilidade. Sem conflitos, sem discórdias.
Parece simples de entender, de escrever, mas tem gente que erra ainda assim. Na grafia, na ação, na intenção... O branco no fundo dos cartazes, dos muros, das vestes. O branco da paz na cabeça na hora da eleição. Com manchas sobrepostas, de tinta, de suor, de sangue. Luta pela paz. Soa tão contraditório. Brigar para não ter briga. Não se pode mandar da cabeça de todos mas pode cuidar da própria cabeça.
Se tomam conta da vida dos outros, são intrometidos. Se tomam conta das próprias vidas, são egoístas. Ser humano exige muito. Ou nós é que esperamos pouco?



quinta-feira, 20 de junho de 2013

Sem voz

Dizem que a voz do povo é a voz de Deus. Mas alguém já ouviu alguma das duas em questão? Digo, escutar mesmo. Porque ouvir é fácil. Falar também. E o povo quer dizer... e ser escutado. Não sabemos dizer com precisão se é grave ou aguda, ou até mesmo se há resposta. Quando criança, éramos vítimas daquelas brincadeiras em que tapavam nossos olhos para que adivinhássemos quem estava atrás da gente. E era difícil errar, mesmo com tantas imitações. As risadas denunciavam.
Hoje, com identificadores de chamadas, não há mais brincadeira. Ao primeiro toque, a surpresa acaba, a chamada é curta, a voz é esquecida. Não sabemos mais com quem estamos conversando, se não olharmos no visor. É a tecnologia atrofiando nossos sentidos. Tirando o arrepio da descoberta de quem está do outro lado da linha.


segunda-feira, 17 de junho de 2013

Vitrine

Na nossa idade parece que tudo que acontece é culpa do álcool, dos hábitos alimentares, do coração despedaçado, do resultado do jogo, do final do filme... Culpa das nossas não resistências às tentações, das nossas insistências em algo que tem tudo para não nos pertencer. São tantos anúncios, placas, convites à soluções, promessas de fim do desespero... E nos rendemos, facilmente. O mundo é uma vitrine sem preços afixados. Seus produtos estão ali, à mostra, com a etiqueta para dentro e o brilho para fora. Não sabemos os valores, fingimos não querer saber e escolhemos pela cara, pelo arrepio que provoca, pelo tom. Os cartões não tem limites (por hora) e as faturas podem demorar a vida toda para chegarem (acumuladas). Porque ninguém vai atrás das dívidas, elas é que são taxadas de perseguidoras pelos que as provocam. Mas todos querem descontos, bônus, chorinho e ganhar na megasena... Todos tem o sonho da casa própria mas deixam o amor próprio de lado. Lincoln não poderia ter acertado mais: "...se quiser por à prova o caráter de um homem, dê lhe poder".



sexta-feira, 31 de maio de 2013

De segunda

Não devemos sair de segunda, força o motor. Até podemos, se estivermos na descida. Mas nem sempre estamos, por mais que pareça que a vida esteja nos empurrando para baixo ou que tem alguém puxando para o fundo do poço. Além disso, a primeira prepara. Assim como o domingo preguiçoso antes de uma detestada segunda feira. E ninguém gosta da segunda por ser o primeiro dia útil, o que faz a terça mais agradável. O segundo lugar não é o mais almejado mas tem a graça do pódio, sem a responsabilidade da liderança. O segundo filho costuma ser mais esperto porque aprendeu com as cabeçadas do primeiro. A segunda panqueca sai mais sequinha e uniforme, assim como todas as receitas feitas pela segunda vez... A primeira é a teoria, a magia.. a segunda é o desenrolar da trama, a realidade. Uma depende da outra. E imagine, se a primeira é inesquecível, tente a segunda. E outra, quem disse que inesquecível é sempre bom?



quinta-feira, 30 de maio de 2013

Apenas...

É o seu cheiro que está no meu corpo, por menos que eu queira sentir. Respiro fundo sem saber se quero me sufocar ou apenas conseguir um pouco de ar. É tanta coisa, tanta coisa, tanta coisa... prefiro não pensar. Não imaginar como deve, seria ou poderia ser. Nem em todos os obstáculos (que soam como desculpas) entre isso ou aquilo. Mas que são meus. Inspiro. Me afundo no seu peito, no conforto de sermos um. E você me recebe de corpo quente e pergunta coisas que nem eu sei sobre mim. Seus olhos ao longe (e que eu insisto para que mirem os meus), suas mãos nas minhas. Todo aquele bucolismo. Curiosidades, vontades, descobertas. Suspiro. Um dia seu cheiro não estará mais no meu corpo e você não vai mais saber o que perguntar para mim. E não importa, não é uma questão de necessidade, é só...que naquele momento, eu e você fomos nós. Expiro.


quarta-feira, 29 de maio de 2013

Análise Simpática



Você aí, sujeito simples, que busca intensamente um verbo de ligação, um artigo definido para dar sentido ao seu predicado verbal. Objetos diretos são interessantes, audaciosos mas adjetivos, vocativos e hipérboles podem enganar. Atenção às metáforas, sua complexidade pode soar traiçoeira mas elas sabem muito bem o que querem dizer. Não se apegue à anáforas e aliterações, nem todo mundo tem paciência para elas. Nada como se bastar... e ainda assim não se envergonhar em pedir revisão. Se aventure (fugere urbem), sobreviva ao mal do século! Atravesse gerações conforme elas acontecem. Fisicamente também. Pratique o discurso direto; isso pode poupá-lo de certas interpretações. Leia glossários, rodapés, epílogos. Se existem, há motivo. Não se apaixona sem conhecimento. O saber faz bem, se não fizer, não chega a ser amor. Não há mal em imaginar... nem em soltar a corda do balão para ambos se encontrarem no futuro do presente.



quarta-feira, 24 de abril de 2013

Narcóticos anônimos

Oi gente, meu nome é Priscila e sou viciada. Ooooi Priscila. Sou viciada em sentimentos. E em pessoas. E em pessoas que se sentem pouco porque alguém  'sentiu muito'. Sou ré confessa e meu crime é por para fora o sentimento dos outros, porque não faz bem guardar os males.  Apesar da dor fazer sucesso. Porque todo mundo sofre (ou acha que sim). E não sou eu quem vai dizer pra esquecer e pronto. Gente do bem sofrendo de algum mal. Isso é equilíbrio.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Todos os dias

Todos os dias tenho medo de morrer.
É tanta desgraça que passa na TV.
É tanta farsa que a gente finge que não vê.
É toda massa concentrada em se intrometer.

Todos os dias a realidade choca, a mídia provoca e a gente não se toca.

Todo esse altruísmo me deixa surpresa
Porque se não fosse a tristeza e a pobreza
Do que a massa teria compaixão
Já que a cultura local não tem felicidade como ganha pão?

E pode parecer egoísmo ou não
Mas porque cada um não cuida do próprio coração?

Por isso prefiro tapar os ouvidos
Porque só eu sei o que tenho sentido
E todo dia tenho medo de ainda não ter vivido.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Inteiramente

Tudo inteiramente tão abusivo que a massa não hesita em pedir desconto, bônus, brinde ou um chorinho que seja. Chorinho.. o álcool, a dança, a lágrima... Tudo tão caro que a gente se sente barato demais, pequeno demais, pela metade. Meio alegre, meio triste, meia muçarela, meia calabresa. Mesa pra um, cama para dois, suíte, três quartos, fone de ouvido, comida congelada, par de meias e um pensamento:
Se fossem inteiras, não seriam vendidas aos pares?

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Em breve

Ela perguntou sobre matar saudade.

- Em breve, ele concluiu.

- Quanto é breve para você?

- Pouco.

- Mas se a brevidade for um intervalo, como no caso, e intervalos são espaços de tempo de espera... breve é muito para mim. Posto ainda que Drummond diz que o amor é grande e cabe no breve espaço de beijar, o que parece pouco, mas é tão infinito quanto a vontade de te ver, te tocar, te fazer rir, te fazer bem... Mas quando estamos juntos tudo passa tão rápido que breve se torna absurdamente insuficiente. Assim penso que breve pode ter significados opostos, tão desproporcionais e tão injustos!

- E quanto tempo é infinito para você?

- É todo o espaço de tempo que quero estar com você e, ao mesmo tempo, todo o intervalo que eu estiver longe de você... é tão...

- Você fala demais.

...
E aproveitaram sua brevidade infinita.




terça-feira, 2 de abril de 2013

Fuga

Fundo. Bem fundo. E de pulmões cheios, começar a correr. Para longe, sem parar, sem olhar para trás. Cada vez mais rápido, com as memórias desprendendo do corpo com o vento. O som sumindo no efeito doppler da vida. Com o suor brotando, escorrendo, secando. E os olhos fechados. Rasgando o chão, o tempo e as impressões deixadas. Indo embora para longe de si mesmo, deixando a paisagem para trás. Sem contemplar. E, ao final do percurso, sentir o cansaço e perceber que não saiu do lugar. Porque a fuga de si mesmo é estúpida, ingrata e dolorosa. Não há como abandonar na primeira curva da estrada o que está dentro de nós. Não há como afogá-la em soluções borbulhantes ou fingir que não existe.
Fundo. Bem fundo. E de pulmões cheios, começar a respirar. Olhos abertos, passos lentos e um novo rumo. O dia seguinte é sempre uma oportunidade justa de fazer diferente.



Ponto Ponto Ponto

Uma pessoa de reticências. Era assim que era... e ponto. Ou melhor, três pontos. Que deixam as situações em stand by. E na incapacidade de encerrá-las, prolonga sentimentos perdidos em outro tempo. E chama de amor. E então, entre o 'era uma vez' e o 'melhor não ser mais sua', o sentimento retentor das versões poéticas e suspiros não programados chega ao nível de bastar apenas por ser sentido. Sem posse.
E na relutância em virar a página, um vento sopra fechando o livro bem na hora que seus marcadores descansavam em cima da cama. Ponto final.
Era hora de começar outra história.
Abre aspas.


segunda-feira, 25 de março de 2013

Delírio VI

Sabe tudo aquilo que eu sempre sonhei? Você não é. E eu não sabia. Não sabia que ainda ia querer e gostar tanto disso. Das nossas diferenças. Para cada coisa que eu não gosto, tenho duas que me atraem. Para cada abandono sem razão, tenho a lembrança da sensação deliciosa das suas mãos na minha cintura. Do calor do seu corpo no meu. Do seu jeito de insistir no não quando quer dizer sim. E digo que não devo, que não é certo mas não sei me afastar... Penso em te pedir para sumir. Saia! Saia de mim. Tire esse gosto da sua boca na minha e toda aquela sensação inexplicável quando os meus dedos se perdem entre os seus cabelos... Ai Deus, queira ficar! Só mais um momento. Que eu não te faço sofrer. Porque pode até ser nada, mas é um nada cheio, e com gosto daquilo que nunca tinha provado. E que, certamente, quero mais.


Voar...

Tinha mania de balões. Daqueles de papel. Fazia vários de uma vez... com embalagem de chocolate. Mesmo sem gostar muito de chocolate. Dobrar era uma terapia, assim como cozinhar, limpar a casa e escrever... e música. Naquela tarde limpou a mesa, deixou o arquivo organizado e recolheu os balões. Chegou cedo, ouviu The Strokes o dia todo e pensou, pensou muito. A decisão estava tomada, era só comunicar. Parecia tão difícil, o apego, a saudade... as amizades. E o contra peso eram os sonhos deixados para trás. Ainda bem que sonhos não desistem da gente, a não ser que a gente pare de sonhar. Abandonar o barco é melhor do que ficar para vê-lo afundar e às vezes próxima oportunidade pode não chegar.
Olhou em volta, uma garrafa de água vazia. Até a vida tinha acabado ali, evaporado através da tampa. Suas mensagens de otimismo pregadas com fita lhe sorriam, apesar de ter sido julgada amarga. Era provável que chorasse, de saudade talvez, quem sabe, um dia... mas nesse momento não sabia de mais nada. Só o que queria. E levou os balões no bolso da calça... porque agora era hora de voar.




quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Pão e circo

O respeitável público já não é tão respeitado e agora atende por massa. E todo mundo sabe que massa é aquilo que até enche, mas não alimenta de verdade. O picadeiro ainda fica no mesmo lugar, onde as tendas são montadas estrategicamente como cúpulas receptivas de um show que parece não ter fim. Os domadores são numerados e escolhidos por suas promessas, mas só mostram seus rostos depois da estreia. As feras estão soltas, as bizarrices são manjadas, mas quem pinta o nariz de vermelho é o espectador.
Ele ri na cara do perigo. Ele é o gladiador preferido na arena. Se comunica em outros idiomas mas ganha como se nunca tivesse aprendido a escrever. Faz acrobacias com o ordenado e dá audiência para as desgraças do mundo. Aplaude bolas em gramados e se comove com desconhecidos dentro de uma casa com piscina. Não vive sem coca-cola, internet e televisão. Reclama da TV aberta mas não mantêm a boca fechada. E vive de dieta... conforme a moda. Sete grãos, sem glúten, ômega 3, mas não deixa de ser pão... e circo.


Polaridades...

As pessoas estão doentes. Não lamento. Não por isso.
Procurando inspiração, me deparo com todas as revoltas e dissabores da vida e penso que penso demais.  Estaria eu doente?
Nós pensamos, eu digo. A coletividade há de concordar comigo. Nada está bom e a gente planeja feriados e fim de mundo ao mesmo tempo na cabeça. Jogamos beijos venenosos e palavrões carinhosos... Comemos doce com salgado, dormimos com a janela aberta e edredon até a cabeça. E nos apaixonamos pelo cara errado, certo?! Várias vezes, claro!
Seguindo o roteiro: pensar antes de falar, antes de agir, antes de transar, antes de sair sem agasalho ou sem guarda chuva... a receita é simples. Simples para esquecer a chave, o guarda chuva, o agasalho, a camisinha, o sal, o açúcar, o remédio...
Mas não tem problema, visto que vamos acordar de mau humor, e este vai se dissipar em duas horas, voltando quase na hora do almoço e daí duas sessões de dor de cabeça, uma discussão, quarenta minutos abraçando pessoas incontrolavelmente e um ataque de risos. Não há porque se preocupar se a memória falhar nesse meio tempo.
Acho triste o hipocondrismo imperando aqui e ali. Mas o que posso dizer? As pessoas estão doentes porque pensam que estão doentes. E daqui a pouco ficarão pensativas porque adoeceram e não sabem o motivo. Do nada, risinhos contidos e a nova máxima:
"O quê? Não liga não, sou bipolar"
Antigamente havia uma glória em pensar que era bonito ser feio.
Hoje as pessoas estão doentes. E eu não lamento. Não por isso.