Eu tava bem. Eu tô bem, na verdade. Tenho tido mais dias bons do que não tão bons. Consigo fazer meus programas preferidos sozinha, do jeito que gosto. Mas também procuro socializar, minimamente, porque é necessário quando se cresce em sociedade. A semana não poderia ter começado melhor. Coisas dando certo, preocupações sob controle, altas reflexões para não pirar, lugar de escuta, definição de metas, planejamento, vida. Na sessão de terapia dessa semana uma única palavra me tirou todo o controle e eu não consegui prever que iria desabar. No dia seguinte, todos os gatilhos das prateleiras do supermercado me abraçaram sem que eu tivesse tempo para pedir socorro. Respirei fundo. Olhei em volta. Tava cheio, mas não tanto. Alguns corredores vazios. Conferi a compra. Provavelmente não tinha esquecido nada. Talvez devesse. Só pensei: quanto tempo será que demora pra essa fila andar? Tinha um peso considerável nos meus braços, sabe? Sem falar que fica a marca da alça da cestinha doendo um pouco depois. Eu sei que não volta ao normal rápido, pelo menos não o que eu considerava normal antes. Passei no caixa. Qualquer sacolinha já faz um rombo na nossa conta ultimamente, né menina?