Existe um texto, atribuído a Shakespeare, que diz que não importa em quantos pedaços o seu coração foi partido, o mundo não para para que você o conserte. Eu gosto de Shakespeare desde criança, meu avô tinha um livro de contos dele, um dos primeiros que li na vida, juntamente com "A volta ao mundo em 80 dias", de Julio Verne, vários do Pedro Bandeira, contos de Machado, e uma porrada de poesia. Minha base literária diz muito sobre quem eu sou hoje: uma pessoa que busca aconchego na ficção.
Aí hoje, saindo destruída da sessão de terapia, chorando sem parar, essa passagem veio muito clara na minha cabeça, assim como o texto completo, que tenho quase decorado até hoje. Meu psicólogo mora no Rio Grande do Sul, e tá acontecendo uma tragédia climática por lá. E eu saí triste de preocupação e pensando como é injusto, ao mesmo tempo, eu não poder ignorar os meus próprios problemas para poder focar em uma coisa importante, junto com a sensação de impotência por não poder fazer nada, e a falta de energia para qualquer uma dessas coisas. Foi quando entendi que a vida é isso mesmo. Sempre vai ter alguma coisa acontecendo, e mundo não vai parar pra gente consertar nada. Ignorar isso só vai fazer atrasar alguns processos de cura. Como quando a gente coloca a nossa dor no bolso pra cuidar da dor de outra pessoa. Coisa que faço o tempo todo, inclusive.
Agora tô aqui refletindo como viver sem me sentir egoísta por pensar em mim, inspirada por um dramaturgo inglês do século XVI.
Nota: depois de escrever esse texto, descobri que o texto atribuído ao Shakespeare, na real é uma publicação de uma mulher, Veronica Shoffstall, e ela teria escrito no seu livro de formatura, quando tinha 19 anos. Isso diz muito mais sobre a sociedade, a mídia e torna mais interessante ainda a minha reflexão.