Talvez eu tenha demorado pra perceber que a sociedade delimitou todas as suas atividades para serem construídas e aproveitadas aos pares (poltronas duplas no cinema, rodízio promocional para casal). Talvez eu já tenha percebido em outros momentos, quando me cabia a posição em um par. Mas de outro ângulo não parecia ameaçador como agora. E parece que faz parte da vivência se sentir menos quando não é par, apesar de todos os discursos de amor próprio.
A gente passa a vida buscando alguém, estipula exigências estéticas e afetivas e ainda chama de afinidade, energia ou amor. A auto sabotagem vem no starter pack da humanidade.
Sem falar que não é todo par que tá disponível nessa vitrine social. E, se a gente tem exigências, os outros têm também. As caixinhas onde estão as combinações talvez não te caibam, então você se aperta, se cala, se ajeita física e emocionalmente para fazer parte. E ainda sai mal quando a caixa arrebenta e não cabe mais nenhum dos dois. Quem inventou essas caixas? Quem inventou essas pessoas? Quem inventou que a gente precisa disso? Tem tanta coisa que dá pra aproveitar só.
Empoderada até o chamego do outro se fazer presente e mexer com você de um jeito que o seu próprio carinho não faz. E assim a gente segue. Aos pares. Mais sozinhos que nunca.