sábado, 28 de outubro de 2023

Aos pares

Talvez eu tenha demorado pra perceber que a sociedade delimitou todas as suas atividades para serem construídas e aproveitadas aos pares (poltronas duplas no cinema, rodízio promocional para casal). Talvez eu já tenha percebido em outros momentos, quando me cabia a posição em um par. Mas de outro ângulo não parecia ameaçador como agora. E parece que faz parte da vivência se sentir menos quando não é par, apesar de todos os discursos de amor próprio.

A gente passa a vida buscando alguém, estipula exigências estéticas e afetivas e ainda chama de afinidade, energia ou amor. A auto sabotagem vem no starter pack da humanidade.

Sem falar que não é todo par que tá disponível nessa vitrine social. E, se a gente tem exigências, os outros têm também. As caixinhas onde estão as combinações talvez não te caibam, então você se aperta, se cala, se ajeita física e emocionalmente para fazer parte. E ainda sai mal quando a caixa arrebenta e não cabe mais nenhum dos dois. Quem inventou essas caixas? Quem inventou essas pessoas? Quem inventou que a gente precisa disso? Tem tanta coisa que dá pra aproveitar só. 

Empoderada até o chamego do outro se fazer presente e mexer com você de um jeito que o seu próprio carinho não faz. E assim a gente segue. Aos pares. Mais sozinhos que nunca.

quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Acabei de ler na internet, em um perfil de alguma psicóloga, que se eu fui uma filha que não deu trabalho, talvez hoje eu tenha o hábito de sabotar minhas relações com medo do abandono, tenha dificuldade em pedir ajuda e seja perfeccionista e me cobre demais. Agora tô chorando por ter sido sempre uma filha quase exemplo. Nesses 37 anos a maioria das coisas que ouvi as pessoas falando sobre mim sempre foi que sou boazinha demais, organizada, que não consigo fazer mal pra ninguém, que choro demais por qualquer coisa, que me dedico além da conta pra gente que não consegue me valorizar. É muito louco como palavras legais, tipo boazinha, organizada e dedicada podem não ser tão cruéis com a gente às vezes. Esse pensamento não vai ter um desfecho porque tá sendo processado ainda. E eu pensando que o meu maior problema pra resolver agora era a carência que eu tentei fingir que não tinha.

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Mais uma vez, sofrendo parcelado, por um amor possível que escolheu não acontecer mais, Priscila? Você sabe que não manda nisso, né? Sei que tem dia que fodam-se as borboletas e os jardins, a gente só quer chorar até esvaziar o vazio que ficou.

domingo, 15 de outubro de 2023

Além do fim

Ando dormindo pouco, tarde ou cedo, em uns horários bagunçados. Já li, curti e concordei com quase todas as frases de superação de ex que apareceram no feed do instagram. Reavaliei mil vezes minha decisão de terminar. Não me arrependi nenhuma vez. Então por que caraleo ainda tô chorando sem parar?

Que eu saiba, não teve traição, a amizade permanece, e me envolvi com gente o suficiente para seguir em frente. Só que, sem o coração limpo, não dá. E o que um ego ferido não faz, né? Pensar que talvez alguém ainda escute um "eu te amo" da boca que eu queria escutar por tantos anos. Eu fiquei além do fim. Já tinha acabado fazia tanto tempo, mas gente só enxerga a ilha quando tá fora dela. Vai passar.

sábado, 14 de outubro de 2023

Paris parece mesmo bonita

Tive pesadelo.

Sao 4h51 da manhã, tô chorando e, geralmente, seria a hora que eu escreveria contando tudo pra você e você me acalmaria quando lesse. A gente tinha dessas coisas. Eu tinha pesadelos às vezes. Mas dessa vez o pesadelo foi com você. E, talvez, dessa vez, não seja um pesadelo, mas me deu palpitação e eu não tenho você pra contar. Porque a gente tá seguindo a vida, cada um na sua. E também por isso eu não posso contar pra você agora, do mesmo jeito. Você já tem de quem ouvir pesadelos agora. E eu até tenho alguém pra quem contar, mas não quero começar estragando alguma coisa que não é exatamente uma coisa, contando um pesadelo que não é pesadelo, mas é sobre você. Não tenho o direito de transferir essa responsabilidade desse jeito. Faz um tempo que estou sem você, mas só agora me senti sozinha de verdade. Por causa de um sonho com você. A gente tava em Paris, sabe? Tava frio, do jeito que eu gosto. E já tinha passado pela Espanha. Claro que tinha que ter viagem, "tudo é viagi". Mas você já tinha pra quem voltar depois disso. E eu, com todos os rolos da vida, não tinha ninguém, porque ninguém aguenta muito tempo. Ou será que eu não foco e assumo porque tô com medo de mais rejeição? De nunca ser suficiente pra ninguém. Só que isso, eventualmente, vai acontecer de novo. Ao contrário também. A ideia é acalmar e fazer doer menos cada vez, reduzir os danos. Até porque, não dá pra controlar o que a gente sente em relação ao outro, e o que o outro sente em relação a gente. E Paris parece tão bonita. Não vale a pena perder o sono chorando por isso.

o cara da livraria

Eu tinha 22, ele 24. A gente se conheceu na livraria e eu atendi ele com o carisma de um funcionário público prestes a se aposentar, quando levantei o rosto e vi ele. Eu queria me esconder dentro de uma caixinha de big mac, mas paralisei e fiquei imaginando o que ele come no café da manhã, já que eu queria acordar todos os dias com ele agora.

Depois de alguns desencontros, a gente conseguiu namorar por 698 dias, com direito à poesia, cartas fofas, cappuccino no posto de madrugada e muitos filmes assistidos pela metade.

Até que acabou.

Chorei uns 5 anos, não por ele, mas por um personagem que criei, como se fosse ele. Chorei na balada, no trabalho, pós sexo, mercado, shopping, banheiro de bar, por aí vai. Chorei tanto que os meus amigos passaram a odiar ele, sem ele ter feito nada. Chorei até esquecer pelo que eu chorava. A gente se afastou pra eu me curar, a vida aconteceu. O meu coração ficou limpo e eu me apaixonei de novo (esse acabou também, mas essa é outra história, que eu espero não chorar 5 anos).

Hoje, 15 anos depois daquele dia na livraria, e depois de muita terapia, a gente continua amigo, não choro mais (não por isso) e guardo com carinho as boas lembranças. Não deixa de ser um felizes para sempre. Seja lá o tempo que durar esse sempre.

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

pelo menos durante a TPM eu preciso me afastar de você

Eu te amo, mas não amo mais a gente. E, pelo que percebi, você não me amava, mas gostava da gente. Foi por isso que acabou. Antes mesmo de terminar. Você podia ter me contado que não sentia mais, poxa. Por que o ser humano insiste e cava esperanças vazias quando não existe reciprocidade? Será que é medo de ficar só? Ou um abraço gostoso, bons momentos e viagens adiam o fim? Será que sentir alguma coisa é melhor que sentir nada? Spoiler: não é. Principalmente se essa uma coisa é o gosto amargo da rejeição. Talvez eu te ame pra sempre, mesmo não amando mais a gente. E esse amor se transforme naquela "velha canção nos teus ouvidos, das horas que passei à sombra dos teus gestos". Vinícius de Moraes sempre tem um trecho pra me rasgar inteira em cada fase da vida. Mas é isso ou três tapas na minha cara pra me recompor e lembrar que ele não vai ser o último cara que vai me amar*, caso um dia eu acredite que amou.


*a referência é do filme "alguém como você"