quarta-feira, 3 de abril de 2024

compras da semana

Eu tava bem. Eu tô bem, na verdade. Tenho tido mais dias bons do que não tão bons. Consigo fazer meus programas preferidos sozinha, do jeito que gosto. Mas também procuro socializar, minimamente, porque é necessário quando se cresce em sociedade. A semana não poderia ter começado melhor. Coisas dando certo, preocupações sob controle, altas reflexões para não pirar, lugar de escuta, definição de metas, planejamento, vida. Na sessão de terapia dessa semana uma única palavra me tirou todo o controle e eu não consegui prever que iria desabar. No dia seguinte, todos os gatilhos das prateleiras do supermercado me abraçaram sem que eu tivesse tempo para pedir socorro. Respirei fundo. Olhei em volta. Tava cheio, mas não tanto. Alguns corredores vazios. Conferi a compra. Provavelmente não tinha esquecido nada. Talvez devesse. Só pensei: quanto tempo será que demora pra essa fila andar? Tinha um peso considerável nos meus braços, sabe? Sem falar que fica a marca da alça da cestinha doendo um pouco depois. Eu sei que não volta ao normal rápido, pelo menos não o que eu considerava normal antes. Passei no caixa. Qualquer sacolinha já faz um rombo na nossa conta ultimamente, né menina?

quinta-feira, 21 de março de 2024

haja amor

Acho que sou viciada em sentir. Tem gente que não consegue ficar só e, por isso, emenda uma relação na outra, só pela certeza que vai ter uma companhia pra tudo, mesmo sem amar, sem coração limpo e com traumas por resolver. Tem gente que se fecha e jura que não vai mais gostar de alguém pra não sofrer de novo. E tem gente, como eu, que não se importa em sofrer, desde que antes desse sofrimento haja amor. 

É como percorrer o caminho começando pelo outro lado. A nossa cultura ensina que a gente precisa se fuder primeiro para depois receber a recompensa. Quando um relacionamento acaba é como se a gente tivesse vivido a fase da recompensa antes, só isso.

Eu gosto de gostar. Desde que me entendo por gente, tô sempre gostando de algum cara. Vivi amores platônicos intensos na adolescência. E, quando você conversa comigo hoje, sempre acha que tô apaixonada, apaixonando ou caçando alguém pra me apaixonar. Um círculo vicioso.

Mas é que a vida parece tão melhor quando se tem alguém para escrever sobre, presentear, mesmo que na imaginação. Alguém que te faz conectar com memes, se identificar com frases de filmes, trechos de música. Imaginar essa pessoa em todas as fotos de paisagens da internet, como se vocês fossem pra lá um dia. Inclusive, lembrei de uma frase da série "you" (eu sei, problemática a série), mas a frase diz assim: "o que você perdeu pra buscar amor com tanta intensidade?" Ainda não consegui responder isso.

E eu nunca fui a pessoa que procura alguém para me completar ou me curar de qualquer coisa. Até porque, evito me envolver se não estiver com o coração limpo. Pra quê vou arrastar alguém pra passar perrengue emocional comigo, né? Gosto de ficar sozinha e descobri que fico bem assim. Mas porque caraleos eu insisto em querer ter alguém fazendo o meu coração arder o tempo todo? Já não moro numa cidade quente o suficiente, não? E geralmente é alguém que não vai corresponder. E eu também não quero ficar com essa pessoa, só sentir mesmo. Que objetivo é esse? Talvez o vício seja em querer tanto reciprocidade, mas ter tanto medo dela, que sempre acho que ninguém vai ter interesse por mim por muito tempo, mas pode ser que isso também seja coisa da minha cabeça, porque o dia que isso acontecer, nem vou ter roupa pra isso. Talvez seja até melhor sem roupa, mas enfim. Fica a reflexão e a recomendação de reabilitação.

terça-feira, 19 de março de 2024

Eu te amo e vai passar

O diálogo mais famoso de fleabag é quando a personagem da Phoebe Waller-Bridge fala que ama o padre gato e ele responde: "vai passar". É um momento angustiante, e eu me derreteria inteira, jogada no chão da cozinha, cada vez que lembrasse dessa cena, se não fosse a compreensão dela no final. Se ela, que foi a rejeitada, logo depois de confessar o seu amor, entendeu, porque eu não entenderia?

Às vezes o amor só não dá mais certo depois de um tempo. Ou não é suficiente, correspondido, esperado, apreciado, existente. E eu não entendo esse sentir, se não quero mais nada.

Quando penso, agradeço a sorte de ter vivido a maior experiência que pude com o amor, com você. Tem gente que passa a vida sem saber o que é isso.

Quando sinto, ainda me rasga de ponta a ponta, que eu chego a virar noites rezando pra não te amar mais, do tanto que dói. É quando eu lembro da cena de fleabag "vai passar". Porque sei que passa. E quando esse dia chegar, vou rir tanto, que nada vai me tirar esse prazer.


(Sim, eu tô extremamente cansada desse assunto, desse sentimento, dessa dor, de pensar e falar sobre isso)

segunda-feira, 18 de março de 2024

igual sorteio da tevê

Faz uns meses que tem um projeto de texto arquivado com o nome "depois de você". Só que percebi que ainda não existe um depois de você, porque, de alguma forma, eu não tô deixando você sair de mim e nem você me deixa sair de você. E pra quê? A gente se gosta, mas não funciona junto mais. 

Não quero ficar presa à uma pessoa que já seguiu a vida e que já tem outra pessoa, você consegue me entender? Parece que você adivinha o momento que eu tô quase te deixando ir e reaparece, aí eu fico com a sensação de esperança da gente ficar junto de novo algum dia. 

É tipo promoção dos anos 90: é só você juntar 20 embalagens, preencher um negócio, comprar um envelope, selo, não esquecer de responder por quem o seu coração apanha e enviar para uma caixa postal. E torcer muito pra ser uma das cartas sorteadas, das que vão jogar em cima do apresentador no palco, ao lado de um carro girando, num intervalo de um programa qualquer. E, se chegar a ganhar, pode nem ser o prêmio que você quer.

É muito trabalhoso e dolorido esperar por você. E ainda não tem garantia que vai dar certo ou que vai ser o que a gente precisa. Já disse, o amor não segura uma relação onde falta tantas outras coisas. Não, eu não sei o que você pode fazer. Se eu não consegui te superar nem sabendo que você assumiu outra pessoa e faz com ela tudo que eu sonhava que fizesse comigo, mas nunca fez, eu não tenho solução mesmo. Você pode falar que me odeia, na minha cara, que talvez eu ainda te queira um dia, pelas memórias, pela burrice ou pelo medo de achar que ninguém nunca mais vai gostar de mim.

Só que, e se alguém gostar e eu não gostar de volta? Eu tô cobrando reciprocidade, não tô recebendo e tô me apegando à uma coisa que não é o que eu quero? Sim, tô conversando comigo mesma e tomando no cu sozinha. É, acho que vai existir o "depois de você", afinal de contas.

quarta-feira, 6 de março de 2024

Linguagem do amor

Acabei de ver uma imagem na internet que dizia: "conhecer restaurantes juntos é uma linguagem de amor". Comecei a chorar. Não conheço ninguém que ama mais isso que você. Sair pra comer, planejar viagem, ser a pessoa do "vamo", dar um jeito de me tirar de casa, porque "ficar aqui dentro sozinha muito tempo poderia me deixar depressiva"... tudo isso era a sua linguagem do amor. E eu, cega por querer tanto ouvir um "eu te amo", sempre achei que não fosse o suficiente. E infelizmente ainda acho. Mas talvez a minha linguagem do amor também não sirva pra você. Por isso não me arrependo de nada, e nem quero voltar, mesmo chorando de saudade. A gente viveu uns bons anos juntos. Até outro dia tava duvidando, mas agora acho que tinha amor sim.

Equilíbrio

A primeira foto que tiramos juntos foi numa gangorra. Em um parquinho atrás do lago de Holambra. Quando você foi conhecer uma parte da minha família. A gente tinha 2 meses de namoro e a legenda da foto era "equilíbrio". Eu achava a gente um casal meio feinho no começo, então quis começar com uma foto conceito. Pode rir. E não é como se você fosse compartilhar a foto. Você também não fazia questão de exibir a nossa relação por aí. Eu pensava que a gente não fosse durar. Tão diferentes. Nem imaginava que fosse te amar tanto e querer contar a nossa história pra todo o mundo.

terça-feira, 5 de março de 2024

Fleabag e detox

Fleabag é um bombardeio de emoções e não sei dizer até que ponto é bom se identificar com uma protagonista fudida, triste, insegura afetivamente e viciada em sexo com pessoas aleatórias. Até porque, esse último me pegou forte. Daí lembrei daquela frase do Gabriel García Marquez, em memórias de minhas putas tristes: "o sexo é o consolo quando o amor não nos alcança". Isso é mesmo problemático ou a base social em que fui criada é que me faz sentir culpada por praticar isso?

Fleabag é drama, mas também é comédia romântica, só que não segue a receitinha de bolo de nenhum desses gêneros. Se eu terminei a série melhor que comecei? Acho que sim. Ainda mais eu, que mesmo tendo sido forjada nas comédias românticas dos anos 90 e 2000, já caí na real que final feliz nem sempre é ficar com o mocinho. E que só amor não segura relação, ainda mais quando é unilateral.

Na temporada atual da minha vida não tem padre, mas tem a recomendação do psicólogo para desintoxicar de me sexualizar constantemente para preencher o vazio de sentir "o fim do mundo todo dia da semana", como diz a música Refrão de Bolero. Então entre divagações sobre solitude e solidão, uma lista de filmes com finais felizes e idas sozinha ao teatro, tento não buscar envolvimentos rasos por aí. Todo dia parece um ritual de despedida de uma vida retirada da ficção.

Seguimos.

segunda-feira, 4 de março de 2024

Catchup e Mostarda

Todo dia 04 era dia de festa, do nosso jeito. Ou a gente saía, ou viajava (você amava essa opção mais que tudo), ou ficava pra fazer janta juntos e assistir algum filme que tivesse final feliz e paisagens de outros países, porque assim agradava os dois. A invenção do termo "mesversário" nunca foi tão bem aproveitada. A gente não tinha nada a ver. Eu escutava isso desde o começo até depois do fim. O gosto musical, tipo de rolê, sabores de pizza. Inclusive teve aquele vez no rodízio que passavam com dois sabores e o que eu escolhia você não gostava e vice versa. Opostos complementares. Eu cerveja, ele vinho. Nenhum dos dois café. E quando, sem querer, a gente saía um de vermelho e um de amarelo, sem combinar? Isso acontecia muito. Então a gente olhava pra cara um do outro e falava "catchup e mostarda", por mais que a preferida dos dois sempre fosse a maionese. Era uma coisa muito nossa, igual quando os casais colocam apelidos carinhosos um no outro, sabe? Um dia eu até tentei, na brincadeira, porque sempre achei brega, então permaneceu secreto, como várias outras coisas, dessas que a gente entende só de olhar um para o outro. São muitas memórias. Não quero esquecer, só quero que não fique doendo. Feliz dia 04. Espero que você esteja bem.

(hoje seriam oito anos, desde aquele beijo "só pra ver se vale a pena", e valeu)

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Quebrada

Tenho 1,72m de altura. E isso chegou a afetar minha postura. Mas talvez você já tenha me visto em outros tamanhos e formatos. Do tanto que já me dobrei, me espremi e me quebrei pra encaixar onde não tinha espaço. Às vezes me arranjava num cantinho, passava anos batendo à porta de algum coração. De leve. Não queria incomodar. E é claro que não conseguia entrar. Ninguém quer gente que se humilha. Nem como par, nem como família. Sempre fui daquelas que dão passagem pra todo mundo nas calçadas, mesmo que tenha que pular uns canteiros, desviar de umas obras abandonadas. Pode cortar fila. A sua pressa é mais importante que a minha.

Tem dia que dá vontade de gritar, confesso, mas vai que atrapalha alguém no processo. Até porque, se eu jogar tudo pro alto, vou ter que catar. Isso vale para copos e corpos. E não adianta chorar. Aí tem que juntar tudo e colar peça por peça. Lembrar que ficam encaixes tortos, marcas e umas frestas. Ali passa luz, vento, som e dor. E, se você reparar bem, daria pra passar um pouco de amor. Mas tem coisa que o amor não se presta.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Tô escrevendo mal e isso é bom

Sempre tive um puta orgulho das coisas que escrevo. Mas ultimamente tá tudo tão mal escrito. Não vou apagar porque é parte da minha trajetória, mas os 3 últimos parece que são notas aleatórias que esqueci em algum arquivo. Tudo misturado, descuidado, sem uma estrutura, um desfecho gostoso, com sabor de quero mais. Mas acho que sei o que tá rolando.

De 2000 a 2009 participei de alguns concursos literários. 2000 me rendeu um prêmio, entregue na prefeitura, primeiro lugar da escola. Era uma escola pequena, e só as oitavas devem ter participado, não me lembro. Era um texto objetivo, sobre o perfil da mulher do ano 2000. Saí até no jornal, com o uniforme horrível da oitava série e um batom prateado, mais horrível ainda, mas que me colocava bem inserida na galera, no auge dos meus 13 anos.

Em 2003 eu cursava o último ano do ensino médio e a minha escola lançou o primeiro concurso de textos entre os alunos. Fiquei em segundo lugar na categoria poesia e o título da minha obra era "mágoas retratadas". À essa altura eu já tinha percebido que as desilusões da vida me inspiravam mais do que momentos felizes. Inclusive, era sobre isso que o poema falava. Que desilusões, Priscila? Eu só tinha 17 anos no final de 2003.

Mas tudo isso fazia sentido, no final das contas. Quando tô mal, remoendo, lamentando, indagando, toda a dor se transforma em verso, pra tirar de mim e doer menos. Quando tô feliz, tô só vivendo e evito perguntar até que hora vai dar errado, porque não tô acostumada com as coisas dando certo. Coisa de ser humano.

Leia final feliz

São 2h da manhã e eu não consigo dormir porque tô com dor. Aftas e dor no ouvido. Ou manifestações físicas de estresse emocional, como sugeriu o psicólogo. 

Peguei um livro do Vargas Llosa que li em 2013. Tá até com o selo e a data da compra. Pelo visto, me dei de aniversário. Por algum motivo lembrei que o autor era político e fui pesquisar de que lado. Peguei outros livros de outras autoras. Dois para reler e um para ler pela primeira vez. Li as orelhas e voltei para o google "livros com final feliz". Foi uma pesquisa legítima, visto que o último final que tive foi triste e doeu até recentemente. Entre "o amor nos tempos do cólera" (que li e não me lembro), "p.s. eu te amo" e, pasme, "perfume", ainda aparece "Romeu e Julieta". Aparentemente, até o conceito de final feliz é muito pessoal.
Sem mentir, a primeira imagem que surge na cabeça quando se fala em final feliz é um casal junto, certo? Aí quando a gente se realiza em tantos outros pontos da vida e não faz parte de um casal, vem a frustração. Mas isso foi só pra refletir, porque na ficção eu continuo sendo a massa que se derrete com um casal fofo. Uma eterna adolescente iludida.

Afeto assinatura

 

Tem um vídeo na internet que fala sobre as pequenas demonstrações de afeto e o cara relata uma relação que teve com uma menina que mordia ele. E essa era a forma que ela tinha de mostrar o tanto que gostava dele.

Eu vim de experiências com demonstrações tímidas direcionadas à mim, ou talvez eu só quisesse um pouco de carinho em público, algo que me fizesse sentir mais segura e assumida em uma relação.

Comecei a me perguntar se eu tenho uma demonstração que seja muito minha, como uma assinatura, que me fizesse inesquecível.

Mas pra quê, né?

Acho que ainda tô machucada. E meu psicólogo tem razão. O conceito de amor tá bagunçado pra mim porque a minha maior experiência com amor não terminou como eu gostaria.

Seguimos.

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Música de casamento

Recuperei minha conta do spotify, né? Aí achei essa playlist, perfeita para a TPM, que chama "10 years of heartache" (10 anos de mágoa / melancolia / dor de coração) e isso me fez pensar em umas coisas aqui...

Ficar com quem te admira, te respeita e te apoia é um dos mais comuns incentivos encontrados em citações na internet, nas mais diversas versões. Mas e quando a gente confunde manipulação com admiração, respeito e apoio? Ou qualquer outra coisa. O fato é que às vezes parece que a gente esquece o real conceito de algumas palavras enquanto uma situação, dessas fortemente emocionais, tá acontecendo.

Isso me faz lembrar da enorme quantidade de músicas sobre traição e sofrimento tocadas em casamento. E na nossa base social de que "música de casamento" precisa, entre muitas aspas, ter uma certa "melodia de amor", não importando a mensagem. Ao mesmo tempo que a gente têm apego à alguns conceitos, a gente destrói outros tão facilmente. Até o não padrão é um padrão.