quarta-feira, 31 de julho de 2024

breve reflexão de aniversário

Antes de ontem, dia 29, eu fiz 38. Caiu numa segunda, então era terapia-feira, e eu não quis desmarcar. Também não quis sair pra comemorar. Escolhi estar só, mas recebi tanto amor que é como se não estivesse. Pensa num dia que só teve notícia boa. Parece até errado. Mas deve ser porque a gente não tá acostumado com uma extensão de felicidade sempre.

Dentro das reflexões para esse novo ano chegar, na semana anterior destralhei a casa e um pouco do coração. Organizei minhas pastas de posts salvos no instagram. Lembrei de um vídeo em que a Fernanda Souza fala sobre o auto abandono. Ela dá uns exemplos mas, basicamente, diz que quando um bebê não tá recebendo atenção suficiente, isso faz desistir de chamar essa atenção em algum momento. Por um lado pode ser "bom", porque você aprende a se regular e ser seu próprio suporte, mas desistir de si mesmo faz mal.

Fiquei observando o tanto de atenção e carinho que sempre recebi e não me dava conta, porque passei anos vivendo em uma escassez de sentimento, esperando pela próxima migalha que não iria me saciar, mas me deixaria querendo mais. Todo dia era uma batalha pra não querer coisas que eu já não deveria querer mesmo. É muito louco quando passa o filminho na cabeça e vejo que nos momentos bons e ruins eu tava recebendo amor, só que achava que amor era outra coisa. Agradeço quem ficou, me recebeu de volta de braços abertos, e ajudou a me devolver pra mim mesma.

Saber diferenciar como me sinto por alguém e como essa pessoa faz eu me sentir é ouro.


(nota: eu não gostei muito do jeito que acabei escrevendo esse texto, mas é o que tava sentindo e não acho muito certo ficar editando os sentimentos para parecer mais bonito. Tem dia que até os sentimentos saem descabelados por aí e essa é a graça da coisa).

solidão é um perigo

Solidão é um perigo, né? Qualquer intensidade extrema também. Acho que isso foi redundante. Já dizia minha mãe: "tudo que é demais faz mal". E eu acrescento: desde tristeza até água. Ficar só, por uma escolha, passar momentos em silêncio fazendo nada é uma delícia. Sentir só é que dói, porque isso pode acontecer até no meio de uma multidão, no show da sua banda preferida. E, se já não tá num momento bom, pode trazer uns pensamentos intrusivos horríveis.

Acordei e continuei deitada, como qualquer outro dia. Quando se vive numa era de internet, não precisa de muito pra começar o dia, socialmente falando. Celular na mão, conversas atualizadas, levantei, escovei os dentes, troquei de roupa, abri a janela, fechei de volta, deitei de novo. Fechei os olhos, só queria acabar com esse cansaço que bateu do nada. Dei uma leve cochilada de pouquíssimos minutos, talvez cinco ou dez. Virei de lado, meus olhos começaram a escorrer. E a evolução desse choro me trouxe situações imaginadas que chego até ter vergonha de contar. 

Olhei em volta, preciso limpar esse apartamento, me imaginei no corredor do mercado, procurando o produto de limpeza mais forte, que me deixaria tonta só de sentir o cheiro e me deu medo da escolha que eu poderia fazer de desinfetante. Calma, eu não tenho essa coragem. E não me odeio, só me sinto só. Isso passa. 

Não vou fazer nada, não quero dar trabalho pra ninguém. Perdi um pouco do prazer em comer, meu sono tá caótico. Mas não faz sentido eu pensar em nada disso. Tentei recuperar meus planos bons na cabeça, minha viagem dos 40 anos, qualquer outra coisa. Nesse momento tudo parece impossível, mas acho que as crises são pra isso, pra questionar. Então pensei: vou produzir, trabalhar nos projetos em andamento. Provavelmente vai ser isso que vai me arrancar da cama mais fácil. E é tão triste que nos nossos piores momentos, a gente se afunde no trabalho. A sociedade é podre. E ainda assim, ela não vai se livrar de mim tão fácil.