sexta-feira, 17 de maio de 2024

Esses dias eu acordei e foi mais um daqueles dias em que não tive força pra levantar cama. Infelizmente esses dias têm sido frequentes. Então fico buscando motivos pra me tirar disso tudo. Alguma coisa que costumava me deixar animada. Às só me puxo pra fora dela por causa dos boletos vencendo. Até eles estão vencendo mais que eu ultimamente. Me incomoda de um tanto não ter vontades, perder apetite, não sentir prazer em várias coisas. O trabalho, ainda que no automático, ainda me ajuda, não só pelo medo de ficar devendo o aluguel, mas pela escolha que fiz lá atrás, de trabalhar com criatividade. Se eu tivesse que vestir uma cara boa de manhã e passar o dia em um escritório, não sei se estaria aqui escrevendo isso. Porque provavelmente estaria enfiada numa sala, passando raiva com cliente, driblando prazos apertados. Esse texto nem era pra ser sobre isso. Mas talvez tenha sido porque precisava sair de mim.

Cheguei no ponto de ficar com vergonha de ainda estar mal, vergonha de sentir saudade, vergonha de chorar. É absurdamente triste estar com alguém e só me dar conta depois que eu só queria que ele gostasse de mim do jeito que eu gostava dele. Eu nunca exigi muito, pq acho que em relacionamentos não cabem exigências. A gente tinha tanta coisa boa juntos. E construímos um nível ótimo de amizade. Mas talvez ele não tenha conseguido gostar mais e como sempre teve dificuldade pra se expressar, eu fiquei na esperança de que fosse minha vez de ser amada. Sei o quanto isso tudo soa patético. Sinto falta do que ele não conseguia me dar. No fim, faltou afeto. Cada vez que eu morro depois de um relacionamento, tenho esperança de um outro recomeço. Dessa vez não sei se tenho mais. Agora sempre acho que não vou mais me sentir segura, que ninguém vai dizer que me ama, como a última vez, e que me dizer adeus vai ser só mais uma quarta feira qualquer.

Desistir da gente nunca foi uma opção pra mim. Mas te deixar ir também não foi suficiente, além de extremamente dolorido. Te esperei e te procurei em tantos outros lugares. Mesmo sabendo exatamente onde você tinha escolhido estar. Eu não queria acreditar no tanto que foi fácil pra você ir embora sem olhar pra trás, como se eu não significasse nada. A rejeição pega de um jeito né, menina? Desde então toda manhã, no lugar do bom dia, mastigo um mantra pra lembrar que escolhas foram feitas e mudar isso não depende de mim. E toda noite, no lugar do aperto da falta de ouvir "dorme bem", eu tento me forçar a acreditar que ele não vai ser o último cara que vai me amar. Mas também, o que eu poderia fazer com esse amor? Esses dias fiz brigadeiro. Porque a vida acontece apesar de.

Quando eu falo que não sou mais problema seu, assim como você não é mais o meu, é porque me dói aceitar que também não sou mais o interesse seu, o afeto seu, o amor seu. Problema soa um pouco mais leve pra aguentar.

Mas não é justo só eu sentir a sua falta e dormir de exaustão, depois de tanto chorar de saudade. Eu não queria ter que viver sem você, envelhecer sem você do meu lado, perder todas as chances que a gente ainda poderia ter juntos. E não faz sentido algum continuar desejando um futuro com alguém de quem eu só falo no passado.

segunda-feira, 13 de maio de 2024

A fé que costuma falhar

A gente acha que a tristeza maior é quando o amor acaba, mas eu acho que é quando a esperança acaba. E não falo sobre se segurar num fio com aquela pessoa específica, naquele "quem sabe um dia". É sobre a esperança geral, com todo mundo. Que pode ter sido desencadeada pela pessoa específica. O ponto em que a gente para de acreditar que vai dar certo de novo, com quem quer que seja.

Por mais que eu leia, converse e até publique toda minha fé nos emocionados, ela não é tão forte mais. Tem dias que ela nem existe. Se relacionar depende de mais de uma pessoa. E a gente não manda no sentimento do outro, ainda bem. Mas, ao mesmo tempo, deseja essa troca e se frustra quando não tem. E, como a frustração também dói e uma hora essa dor causa uma exaustão tão grande em nós e nos que convivem com a gente, é melhor fingir ou desistir.

Eu não tenho mais esperança em acreditar que eu valho a pena pra alguém. Quando até quem diz que me ama, não faz questão de lutar por isso. E nem precisa lutar. Eu tava fácil, até demais. Sabe como é difícil a pessoa que você gosta gostar de você, ao mesmo tempo, no mesmo universo, sem barreiras impeditivas?  Uma em um milhão. Ou falar que ama já não é mais a mesma coisa em 2024? O que fizeram com os nossos verbetes e conceitos? Acho que esperei tanto que perdeu o encanto. E acabou com a minha esperança. Sobre tudo.

E não venha me falar de amor próprio nessa hora! Foda-se se parece fútil, mas o chamego que eu sinto falta é o que vem do outro, não tem jeito.

Eu choro desde que nasci. E isso não diminuiu muito até eu chegar na fase adulta. Com o tempo fui categorizando esses choros. Tem dia que é só aquela emoção que molha de leve os olhos, algumas vezes as lágrimas escorrem, em uns momentos chego a soluçar, mas também acontece esse fenômeno de me faltar ar. Acredito que esse último não seja só uma emoção querendo sair, sabe? É como se fosse um combo empurrando. E o buraquinho que sai lágrima é tão pequenininho e insuficiente pra tudo que tô sentindo. É aí que o meu corpo começa a puxar o ar de fora e nem ele vem pra dar conta. O bom é que quanto mais me conheço, mais sei que isso passa.

segunda-feira, 6 de maio de 2024

sempre tem alguma coisa acontecendo

Existe um texto, atribuído a Shakespeare, que diz que não importa em quantos pedaços o seu coração foi partido, o mundo não para para que você o conserte. Eu gosto de Shakespeare desde criança, meu avô tinha um livro de contos dele, um dos primeiros que li na vida, juntamente com "A volta ao mundo em 80 dias", de Julio Verne, vários do Pedro Bandeira, contos de Machado, e uma porrada de poesia. Minha base literária diz muito sobre quem eu sou hoje: uma pessoa que busca aconchego na ficção.

Aí hoje, saindo destruída da sessão de terapia, chorando sem parar, essa passagem veio muito clara na minha cabeça, assim como o texto completo, que tenho quase decorado até hoje. Meu psicólogo mora no Rio Grande do Sul, e tá acontecendo uma tragédia climática por lá. E eu saí triste de preocupação e pensando como é injusto, ao mesmo tempo, eu não poder ignorar os meus próprios problemas para poder focar em uma coisa importante, junto com a sensação de impotência por não poder fazer nada, e a falta de energia para qualquer uma dessas coisas. Foi quando entendi que a vida é isso mesmo. Sempre vai ter alguma coisa acontecendo, e  mundo não vai parar pra gente consertar nada. Ignorar isso só vai fazer atrasar alguns processos de cura. Como quando a gente coloca a nossa dor no bolso pra cuidar da dor de outra pessoa. Coisa que faço o tempo todo, inclusive.

Agora tô aqui refletindo como viver sem me sentir egoísta por pensar em mim, inspirada por um dramaturgo inglês do século XVI.

Nota: depois de escrever esse texto, descobri que o texto atribuído ao Shakespeare, na real é uma publicação de uma mulher, Veronica Shoffstall, e ela teria escrito no seu livro de formatura, quando tinha 19 anos. Isso diz muito mais sobre a sociedade, a mídia e torna mais interessante ainda a minha reflexão.