terça-feira, 2 de abril de 2013

Fuga

Fundo. Bem fundo. E de pulmões cheios, começar a correr. Para longe, sem parar, sem olhar para trás. Cada vez mais rápido, com as memórias desprendendo do corpo com o vento. O som sumindo no efeito doppler da vida. Com o suor brotando, escorrendo, secando. E os olhos fechados. Rasgando o chão, o tempo e as impressões deixadas. Indo embora para longe de si mesmo, deixando a paisagem para trás. Sem contemplar. E, ao final do percurso, sentir o cansaço e perceber que não saiu do lugar. Porque a fuga de si mesmo é estúpida, ingrata e dolorosa. Não há como abandonar na primeira curva da estrada o que está dentro de nós. Não há como afogá-la em soluções borbulhantes ou fingir que não existe.
Fundo. Bem fundo. E de pulmões cheios, começar a respirar. Olhos abertos, passos lentos e um novo rumo. O dia seguinte é sempre uma oportunidade justa de fazer diferente.



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